segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Morte e vida


 

Quando eu entendo que só eu entendo, já começamos a nos desentender. No momento em que me dirijo até o outro com paus e pedras, não é mais de conversa que estamos falando. A ponte que nos permitia ir e vir, foi destruída. Uma bomba qualquer, de fatos ou fakes, explodiu dentro de cabeças que ensurdeceram. Essa surdez, a de não poder ou conseguir escutar o que querem dizer, afeta também outros sentidos. E, cá entre nós, não faz sentido não sentir. 

Não faz tanto tempo, a humanidade passou por uma tragédia sem precedentes. E grande parte dela foi causada também por essa ausência dos sentidos. Inacreditável que tanta morte, dor e sensação de perda, com todas as sequelas que vieram com pandemia, não nos tornaram mais humanos, mansos, prontos para nos desenredarmos. 

Nenhum argumento equilibrado pode justificar a barbárie. De ninguém, em qualquer tempo, sob qualquer bandeira. Protesto, não concordo, grito, argumento, volto a gritar, defendo ideais, provo, comprovo, realço, pinto, bordo, grito de novo, me faço ver, me faço ouvir, libero as dores, manifesto, aponto fatos, argumento de novo, fico rouco, mas não louco. 

Não consigo crer que Deus opere nesse terreno. Sempre O vi como um pai amoroso, mesmo sendo justo, escolheu se mostrar numa nova aliança como o pai do pródigo. No nascimento recebeu pastores que eram párias da sociedade da época, reis magos que acreditavam num outro deus e outras formas de adorar, estrangeiros... isso tudo num lugar cheirando a cocô de animais,  no calor do tabuleiro em que se deposita comida para vacas, cavalos etc. em estábulos, também conhecido como manjedoura. 

É da origem da maioria de nós que estou falando. E do destino igual que todos teremos. Morte e Vida Severina... que trata de injustiças, aridez, busca por melhores condições de vida, privações, desistência e também de nascimento, redenção, esperança, remissão. De um também filho de carpinteiro na obra do poeta. 

Mas, se você prefere rasgar a poesia, acha que é coisa de quem não entende, infelizmente voltamos a nos desentender. Que pena! Então  pode rasgar também essa página de pequena ousadia. Ah, é verdade, ela não está no papel, não é possível  rasgar. Então delete! Deixe que as palavras voem... pra além do sertão. Embora eu ainda acredite  que ele pode virar mar.