segunda-feira, 27 de março de 2023

Sobre meninas e lobos

 



Eu tenho filhas, três criaturas maravilhosas. Tê-las no colo, a seu tempo, sempre foi a tradução mais pura de aconchego, proteção, cuidado, amor. Uma espécie de realidade paterno-maternidade existencial.

No momento em que escrevo esse pequeno delírio afetivo, o faço motivado pelas manchetes do dia. Entendo que se você estiver me lendo no futuro, preciso explicar bem que história é essa, pra não parecer um pai mais gagá do que um ainda saudável até pra ter mais um herdeiro.

É que no final de semana que antecedeu essas linhas, um pai, lá no belíssimo Rio Grande amado, invadiu, com a filha no colo, o gramado de um jogo entre Inter e Caxias, quando seu time colorado havia sido desclassificado.

Qual a razão da invasão? Pedir um autógrafo? Fazer uma selfie pra neném lembrar do passeio com o papai? Não!! Infeliz e lamentavelmente não.

O pai de família (até antes desse domingo acredito que ele era) pulou a cerca, agarrado à criança, e com a mão que sobrou distribuiu sopapos, tapas e pancadas nos jogadores do time rival. O choro e desespero da menininha não foram suficientes para evitar que o torcedor se comportasse como um idiota.

A torcida, o clube, o esporte, a paternidade, o lado bom do mundo não merecem nenhum generalismo. Ou seja, é preciso apontar quem, quando, como e onde, sem levarmos o desabafo para a arquibancada da vida.

E ao olhar pra ele, quase duvidando que alguém foi capaz disso, me vi novamente com as filhas no colo. Torcendo por elas!

segunda-feira, 20 de março de 2023

Minutinho não existe



Que desafio incrível é esse, o de manter a atenção e foco naquilo que estamos fazendo e também ao redor, no todo, no que acontece muito além do jardim. É algo como ficar com a bola no pé sem deixar de ver o jogo, os parceiros de equipe, adversários, juiz, espectadores...

No trânsito o desafio também cabe. Manter a atenção ao veículo, seu manuseio e desempenho, mas também o olhar macro, para o “lá fora”. Pedestres, ciclistas, motos, carros, sinais, além de diversas outras informações que surgem do nada, invadindo nossa mente pedindo um tostão de atenção.
Qual a razão então para essa impressão de que os minutos já não são mais os mesmos? Uma ligeira olhadinha para o nosso dia já basta para constatar que estamos tentando fabricar um outro tipo de tempo. Onde caiba dentro do mesmo período de 60 segundos um número enorme de coisas a fazer, decisões a tomar, mensagens para responder.

A relação que temos estabelecido com o exigente relógio moderno, tem ferido bastante a capacidade de atentarmos para o que é prioridade. Um déficit de atenção não diagnosticado evolui dentro de nós e não estamos parando para perceber.

O resultado pode ser muito prejudicial. Corremos o risco de perder a bola por simplesmente não conseguir dar atenção às mínimas coisas. Uma mistura de foco, não a prioridade nele, acaba por confundir nossas tarefas. Quero resolver isso agora, mas aquilo outro também...ah!, lembrei: tem mais um montão de outras coisas. Meu Deus! Esse tempo tá voando.

segunda-feira, 13 de março de 2023

A Mongólia é logo ali



Foi bem cedo, lá quando ainda me chamavam de Juninho, que aprendi a contar até 10. Uma façanha, dependendo da idade e do tamanho. Familiaridade com os números, as letras, as palavras. Migrar do papai e mamãe para falar paralelepípedo, helicóptero, saber quanto é 7 x 7, ou 46 x 27. A tabela periódica, onde fica a Mongólia, o denominador comum, o planeta Urano...

Aprender é parte de existir. Sempre o ambiente nos oferece a oportunidade de saber mais. E desde sempre as cobranças pelas respostas fazem da vida uma nova segunda-feira a cada dia. Não tem como fugir, a não ser que optemos pela caverna da mediocridade e a estagnação. Uma aposentadoria ainda com energia.

Fora isso, com 40 ou mais a estudante pode sim cursar sua graduação em Biomedicina, embora as colegas mais jovens acreditem que ela não sabe o que é o Google.

Na verdade, saber quem ele é trata-se da maior facilidade presente no presente. O que elas não entendem, ou não querem aprender, é que a maturidade nos ensina mais do que o robozinho por trás de quase tudo.

Contar até mil, talvez seja a maior das vitórias de quem não desiste.

Respirar, esperar, compreender, perdoar, recomeçar, escutar, insistir (não teimar), resistir, acreditar e ainda sorrir, mesmo que em meio a dor e lágrimas, são lições que lá na fase do contar até 10 era impossível ensinar pra gente. Até porque, quem lidava conosco lidava com isso também, só não conseguia passar direito pra frente. Era preciso chegar nossa hora de aprender a ferro e fogo.

Hora de mais um ponto final. O de hoje, é claro. Afinal, mais do que saber onde é a Mongólia, é preciso saber onde estamos.