quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A quem interessar possa





Estamos em crise. Fato! Historicamente, nessas épocas, os julgadores de plantão saem à caça das bruxas para justificar erros e crenças punitivas. Muitas vezes, na falta de argumentos plausíveis, o apelo ao sobrenatural é o que resta; contrário ao bom senso e distante daquilo que de fato precisamos para pacificar os ânimos e voltar a ter esperança.


O cenário, com cara de idade média, lamentavelmente pode ser transferido para os novos tempos, batizados na pia dessa nova era como o novo normal. Pena que de normal pouco ou quase nada pode ser visto neste palco. Vivemos nos vídeos plantados, textos maldosos e áudios vazados, um momento de pouca distinção entre o certo e errado, o bem e o mal. A ética escapou por entre os dedos de quem deveria saber que ouvir o outro, saber se é verdade, buscar a informação correta, lutar pelo bem comum, são, ou deveriam ser, o mínimo esperado de seres humanos inteligentes e com um nível responsável de civilidade.


A Pandemia da Covid-19 é a realidade na qual vivemos há quase um ano. Erros e acertos no trato com o vírus e seus efeitos marcaram esses meses de angústia e luto. Especialmente nos países onde a demora para reagir e acreditar na força do monstro o tenha transformado num ser ainda maior e mitológico, com suas muitas cabeças e males.


O pensador tcheco Tomás Halik dizia que toda crise é uma chance. Eis uma verdade atual e desafiadora. Que chance é essa que se nos é dada hoje? Penso que ela passa pela possibilidade que temos de recolher as armas da caça e mecanismos de ódio e perseguição, sejam eles postados ou engendrados, para encontrar o caminho da mediação do conflito e a busca pela paz.


A sociedade organizada – ainda cremos que ela é capaz de se comportar assim – tem setores do comércio, da indústria, do entretenimento, da cultura, da gastronomia, capazes de oferecer mais do que a crítica, mais do que a queixa, mais do que temos mais visto nesses dias de anemia intelectual e apatia emocional que nos assolam.


Os governos, em todas as suas esferas, necessitam dessa mesa posta. A do pão partido, compartilhado, oferecido, mesmo que servido entre lágrimas do luto e angústia do não saber tudo e como sair logo dessa fase trágica. Que seja servido o cálice também, mesmo que a vontade seja de pedir que ele seja afastado de nós. A mesa é de todos! Ficar fora dela ou apontar o dedo da acusação e lavar as mãos são as atitudes que a história já se encarregou de rejeitar.



Estamos em Rondônia. Estado que tantos brasileiros chamam de periférico. Geograficamente até pode ser, no lugar-comum do modo com que a Amazônia é tratada isso também faz sentido. Mas para quem vive aqui, cuida de buscar seu lugar ao sol sob o céu mais azul do Brasil, a visão não pode ser periférica, nem pequena, nem mesquinha, nem desprovida de humanidade.


Em áudio, vídeo, texto, out door, mensagens, conversas, reuniões, pautas das organizações das quais fazemos parte, estamos precisando de homens e mulheres capazes de levantar a voz sem perder o tom. Convidar à unidade sem perder a identidade. Amar ao próximo ainda que distante, separado talvez por algumas poucas quadras ou um muro.


Façamos!! O socorro que o mundo pede clama por atitudes movidas pela bondade. A melhor vacina contra o mal. Seja ele o do século, seja ele o de cada dia.


Benedicto Domingues Júnior

Jornalista, escritor, professor, Superintendente de Comunicação da Prefeitura de Porto Velho