Durante um passeio com minhas duas filhas surgiu o cinema, como tema da conversa. Falamos sobre “12 Anos de Escravidão”. Elas queriam saber o que eu e a “mamis” tínhamos achado do filme. Respondi que além de termos gostado muito da saga de um homem livre, sequestrado e escravizado em fazendas no sul dos EUA, nos chamou a atenção o fato de que após 161 anos o jornal "New York Times" tenha corrigido um artigo sobre a história que originou o ganhador do Oscar.
Publicado em 20 de janeiro de 1853, o texto traz o nome de Solomon Northup, protagonista do drama, grafado incorretamente. O sobrenome aparece como "Northrop" e como "Northrup". O erro veio à tona após a escritora Rebecca Skloot apontar o problema no Twitter.
Curiosidades como a produção ter sido salva pelos cofres de Brad Pitt, o diretor e ator principal serem ingleses, o roteirista ter trabalhado de graça até aparecer alguém que bancasse o filme, o exuberante desempenho do alemão Michael Fassbender também pontuaram nosso papo.
E é gostoso compartilhar isso. Poder trocar ideias sobre cinema, literatura, arte ou qualquer coisa construtiva com duas jovens de 17 e 14 anos é um privilégio. Ainda mais se elas moram na mesma casa que você.
Em tempos de vacas magras nos relacionamentos, imersão nas redes e o novo mundo das mídias sociais e sua revolução silenciosa, dedinhos de prosa em família tem um quê de tábua de salvação. Me peguei pensando nisso e fiquei feliz em saber que desfrutamos de prazeres mútuos, mesmo pertencendo a universos tão distintos. O choque de gerações não rompe laços de amor e carinho.
Claro que eu e minha esposa esbarramos na imensa dificuldade que é conviver e entender seres tão diferentes. Filhos evoluíram tanto que às vezes temos a impressão de que foram abduzidos e alienígenas os capacitaram com poderes além da nossa conta. E isso acontece com todo mundo. Só muda o endereço.
Mesmo assim me flagrei em paz, lembrando da conversa sobre a luta do escravo que queria voltar pra sua casa. E é isso o que muita gente experimenta hoje: um enorme desejo de voltar pra casa. Independetemente do tipo de escravidão que enfrenta.