Me disseram que o cheiro de carro novo é um aroma criado
por cientistas para aumentar a satisfação da compra. Deixar o cliente ainda
mais embriagado na hora de rodar a chave pela primeira vez e curtir o automóvel.
E o cheirinho é bom mesmo. Não tem nada que se pareça com ele. Mais uma prova de
que nossos instintos primitivos ganham
vida, ou ressuscitam, através do nariz.
Eis um item a favor das concessionárias de carros
zero quilômetro. Para desespero das cada dia mais lotadas garagens de usados. Por mais
que aquele Corolla esteja lindão, tenha sido de uma dona só, sua quilometragem
seja a de um carro quase novo, ele não tem o cheiro. Pode até ter um aromazinho
daquelas árvores com a bandeira dos Estados Unidos, que há quem garanta que
servem para perfumar o carro. Mas não é O cheiro... O hummmm, cheirinho de
carro novo, que falam assim que você convida os amigos e parentes para entrar e
sentar no banco ainda com plástico.
Aliás, as quatro rodas com motor
exercem sobre o homem um fascínio quase sensual. As mulheres até falam sobre
como é gostoso o cheirinho, mas não compram por causa dele. Nem em função do
status, ou do motor, ou da pesquisa que saiu e mostra que aquela é a compra do
ano. Os homens não! Além disso tudo, nós
ainda temos a lembrança do Opala do pai, ou o Fusca que a um dia a família teve.
E nem lembro se naquela época o
cheirinho já existia. Até porque nunca tivemos um carro zero.
Esta semana, quando saí da loja
com um carro novo, respirando fundo para cheirar todo ele, lembrei dos fuscas,
opalas e até da Brasília 76 que ajudou a
família a rodar uma boa temporada. A Caravan com câmbio em cima, o Zé do Caixão
do seu Benedito. Conhece o carro? O
apelido nasceu por conta das alças para o passageiro segurar. Como ele tinha as
quatro, incluindo a do motorista, passou a ser chamado assim e não teve jeito. Mas
era um Volkswagen simpático. Meu pai adorava o dele. Bege e preto. Um show!
Para o ex-presidente Collor todos esses eram do tempo das carroças.
Foi assim que marcou época: abrindo o mercado para modernizar a frota
brasileira e caindo do trono por causa de uma Fiat Elba. Seu legado modernizou a indústria
nacional e escancarou a chegada de modelos do mundo todo. Lindos, pequenos,
grandes, modernos, robóticos, seguros e cheirosos. Todos eles. Na hora da loja
e uns dias depois da compra, o cheiro é a certeza de que o motor tem muitos
cavalos, mas o aroma nada tem a ver com
carroça.
Só precisamos cuidar para que a
sensação de prazer da compra não
vire um desespero para pagamento de dívidas. Ou
pagamento de despesas com acidentes e hospitais.
Carro novo é bom. O cheiro,
hummmm, sensacional. Mas é só um veículo. Serve para levar e trazer. Não pode
se tornar um deus ou uma arma. Nem substituir valores maiores e mais
duradouros. Alguns deles com cheiro de amor. Que é muito mais gostoso!!