quinta-feira, 5 de abril de 2012

Eu sou o samba

Thiaguinho é pagodeiro. Exalta o tipo de samba que escolheu para ganhar a vida. Seu sucesso é incontestável. Milhões de brasileiros sabem quem ele é e muitos desses curtem de verdade a música pra frente, do cotidiano, como o próprio cantor faz questão de enaltecer.
Nada novo, nem digno de manchete ou comentário, não fosse o rapaz dizer que está orgulhoso por ter (ele mesmo) mudado um pouco a história do samba.
Quando li isso, confesso que achei que fosse algum tipo de primeiro de abril, ou alguma nota plantada, daquelas que aparecem nas redes sociais matando alguém ou criando um novo fato. Nada disso! A matéria, no G1, dizia exatamento o que meus olhos duvidaram: o moço acredita mesmo que mudou a história do samba.
Sim, o samba que um dia já foi de Cartola, Nelson Cavaquinho, João Nogueira, Jackson do Pandeiro e Dona Ivone Lara. Virou tipo paulista, com Adoniran e seus Demônios. E tipo exportação, graças aos geniais Noel Rosa, Braguinha, ou Ary "o Brasil samba que dá" Barroso.
Das safras seguintes, nem mesmo Martinho, nem mesmo Paulinho, nem mesmo o Zeca Pagodinho, se arvoraram em tamanha insanidade: dizer que mudaram, mexeram, imacularam, transformaram o samba. Sabem quem são, num mesmo universo onde estão Beth Carvalho, Alcione, Clara Nunes e outras excepcionais mulheres que não mudaram o samba. Deixaram-no como ele é, gostoso de ouvir, excelente pro pé.
Acredito na bondade do pagodeiro. Ele estava sentando numa espécie de trono, com cetro e tudo. Posava para a foto que viraria capa de um site importante. Por que não dizer algo tão importante quanto? O momento era propício. Uma frase de efeito, contagiante, soaria como mais um pedaço frágil de uma canção, dessas que se ouve hoje e amanhã não mais, em tantas éfeemes do Brasil... E ninguém ligaria.
Só que eu liguei. E quase desliguei. Incrível como está cada dia maior o pacote de bobagens publicadas, com aparência de coisa boa, mas sem conteúdo algum. Não, meu caríssimo Thiaguinho, você não mudou a história do samba. Nem vai mudar. Independetemente do sucesso alcançado. Fruto, tenho certeza, de muito trabalho e dedicação. Só que o samba, o mesmo da Carmen Miranda, sabe quem ela é?, só sofre alterações de tempos em tempos, com a força de uma onda muito poderosa. Somente os gigantes da música popular brasileira podem fazê-lo. E isso naturalmente, sem precisar dizer nada. Afinal, que bobagem, as rosas não falam.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Silêncio dos culpados?

Eu quero tchú, eu quero tchá. Tchê, tchererê, tchê, tchê... tá tarada, tá tarada. Escrevo ao som de uma reportagem na TV apresentando o novíssimo sertanejo universitário. E as canções, se é que assim posso chamá-las, que estão na boca do povo, se é que eu posso chamar de boca.
Os refrões que não dizem nada não são novidade. João Bosco já cantou, aiaiaiaiaia, tjurubem na ri bababababa. A questão não é essa. O problema é a reverência à chamada música chiclete; aquela que gruda e não sai. Tipo a do Michel Teló, que nem escrevo um trecho aqui, com medo de que ela volta a me possuir e eu tenha que exorcizar de novo.
O Ecad, que Deus o tenha em mau lugar, apresenta dados dando conta de que nove, das dez mais do ranking musical brasileiro são músicas dessa onda sertaneja jovem. Compositores e intérpretes dão entrevista dizendo que esse é o retrato da moçada atual. Garantem que a galera tá tarada mesmo por um estilo que herdou o nome sertanejo mas de sertão não tem nada. Nem de raízes, nem de composição, nem de qualidade, nem de beleza.. nem de nada. O resultado da pesquisa comprova a gicantesca fraqueza cultural do país. O abismo que existe entre beleza, letra, melodia, história, amor, com a vulgaridade e suas múltiplas facetas musicais. Infelizmente, parece que a maioria está desse lado do abismo. Gostaria de acreditar que não.
Lamentalvelmente as rádios se dobram como quase sempre o fizeram. A indústria dá um jeito de impor o gosto e os DJ's mandam ver com som na caixa. Não importa o que está sendo rodado. O negócio é o negócio.
Impossível não reconhecer que existe uma safra de excelentes músicos. Que nem tudo está alheio ao que se fazia de genial em décadas brilhantes como as de 50, 60, 70 e até 80. Mas o que hoje é exceção, um dia já foi fartura. Quem quer brilhar no atual cenário, tem que se especializar em chicletismo. De preferência pouco abaixo da linha da cintura, com direito a muita pornografia. Porque, convenhamos, o que um dia já foi sensual, erótico, artístico, subliminar ou direto com direito a amor e saudade, se transformou em carne fria. Sem gosto, como um chiclete mascado por horas.
Eu não quero tchú!