sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Se essa rua

As ruas e avenidas, que não tem nomes de peixes, árvores ou cidades, geralmente prestam homenagem a alguém. Raramente é possível encontrar quem saiba quem foi o homenageado. Figuras históricas e outras sem tanta importância no cenário dos famosos, estão presentes no nosso cotidiano, sem mesmo nos darmos conta de que seu nome está ali, naquela via, por alguma razão; seja por mérito ou pelo simples fato de que vereador e prefeitura precisavam de uns votinhos na região.
Claro que é fácil saber qual a razão de uma avenida se chama Airton Senna, Tacredo Neves, Rui Barbosa, Anita Garibaldi... Mas e os outros? São centenas, em cada município, cuja graça está amarelando na placa da esquina e os moradores não fazem a menor ideia de quem se trata. Eis aí um belo desafio para escolas, comunicadores e até mesmo os pais: começar a descoberta sobre as figuras que residem em cada endereço do passado.
Agora, dureza mesmo é explicar nomes de ruas como Beco do Três Cacetes,em Recife. Nessa mesma cidade tem a Travessa dos Martírios, Rua Só Nós Dois, Beco do Supapo e Rua da Compreensão. Em Belo Horizonte a curiosidade por nomes de logradouros também é enorme: Rua do Sabão ou Alto do Picolé, são exemplos clássicos. E é assim em muitas cidades. Até mesmo as mais glamourosas sofrem com alguns endereços; em Curitiba, por exemplo, tem o Beco do Mijo. Em Salvador, contrangimento dos constrangimentos é o cara dizer que mora no Pau Miúdo. Ouvi falar de uma cidade cujo cemitério fica na Rua do Fogo. O que estão fazendo que ainda não botaram um nome celestial ali?
Por conta disso parei para pensar a respeito das ruas da cidade onde moro. Porto Velho não é diferente da maiorias dos lugares. Aliás, talvez a exceção seja Barretos, cujas vias tem números e não nomes. Descomplicaram de vez na terra do peão. Mas, voltando para a capital de Rondônia, fica evidente que alguns nomes de bairros e ruas merecem uma pesquisa mais aprofundada. Quer ver? Aqui tem o Caladinho, Arigolândia, Escola de Polícia, Cidade do Lobo. Num mesmo bairro, bem pertinho uma da outra, vi as ruas da Fama, Cadência e Infinito, não muito longe da Salvação. Um bom nome para aquela do cemitério.
Também, não dá para ser exigente. Com as cidades crescendo assim, haja inspiração para achar tanto nome. Mas o pecado não reside nesse ponto. Por mais curioso que seja, aquele nome está ali por alguma explicação. O que incomoda mesmo é a fome que alguns tem de ficar mudando tudo. Só deveria ser autorizada a alteração em caso de constrangimento comprovado; de Pau Miúdo pra cima...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Comandante, volte para o navio, é uma ordem!

O que faz um líder? Ele aponta os rumos? Dita as regras? Mostra como se faz? Incentiva? Inspira?

De que maneira os liderados se deixam tomar pelo som da voz de comando e se embrenham no oceano do desconhecido, nos desfiladeiros das incertezas, para provar que são dignos de tal liderança? Ando pensando sobre isso. Não que tenha sido motivado por alguma leitura. Ao contrário! Há tempos que não leio algo sobre liderança que de fato mexa com meus instintos de redator. Aliás, é a quase absoluta falta de gente capaz de inspirar que me levou escrever e perguntar: para onde foram os líderes? Onde deixaram escondida a semente das melhores safras?

Ao ver a foto do gigantesco navio Costa Concórdia, naufragado e frágil em águas italianas, tive a sensação de que vivemos algo parecido, mesmo tendo os pés firmes em terra seca. O que parece ser um delicioso cruzeiro com ventos a favor, pode se transformar num caos, com água entrando por todos os lados.

No caso do navio, sabe-se que seu líder já estava longe da tragédia quando famílias se debatiam em busca de um colete, um bote e de alguém para salvar suas vidas.

E o nosso navio? Em quem águas navega? Para onde vai? Como estão seus equipamentoa de emergência? O que fazem, neste momento, nossos comandantes?

Tenho a impressão que a maioria a bordo descansa tranquila em suas cabines. Alguns outros passeiam em paz pelos ambientes da embarcação, certos de que tudo vai bem. Em momentos assim, raramente nos lembramos que mesmo submersas as rochas podem ser traiçoeiras. Mesmo aparentemente pequenos, os blocos de gelo escondem pontas perigosas, capazes de rasgar os cascos mais endurecidos.

E se num movimento brusco, o pior acontecer? Como reagiremos? Nossos líderes estão capacitados para garantir total segurança? Permanecerão à bordo até que todos se salvem? Gostaria de acreditar que sim. Que eles tem convicção a respeito do que fazem, e, ao contrário do comandante italiano, são capazes de ouvir seus subordinados, a ponto de mudar o rumo, se for preciso. Mais que isso: estão protos para enxergar no horizonte o ponto de chegada.. E nos levar até lá, sem surpresas e perigo.

Para isso é preciso encontrar um ponto de parada para apoio e retomada da viagem. Talvez em alguma ilha, escondido no farol que impede os naufrágios, esteja a carta de navegação que faça renascer o espírito de liderança, a chama de comando, a voz de autoridade, a força dos capitães, a bravura dos navegantes destemidos.

É deles que sentimos falta! Mesmo aparentemente navegando em águas calmas...