Richard Harris é um
cidadão australiano, amado pela família, respeitado pelos vizinhos em Adelaide
e passava férias na Tailândia quando soube dos meninos presos na caverna. Prontamente
interrompeu o descanso para se transformar em figura fundamental no processo de
resgate. Harris é especialista em mergulhos dentro de cavernas e é médico do
serviço de ambulâncias de resgate na Austrália. Além de ser conhecido por lidar
muito bem com jovens e crianças. Ou seja, a velha máxima de estar no lugar
certo na hora certa serve bem para resumir essa história marcada por heroísmo, técnica,
aventura e amor ao próximo.
Foi incrível saber
detalhes da vida do médico que ficou três dias na caverna e orientou boa parte
do processo de salvamento. E chocante descobrir que seu pai morreu exatamente
nesses dias, em que ele ajudava a salvar os meninos e seu treinador. Harris
soube da morte do pai logo após sair com a última vítima.
Me perdi em muitas reflexões sobre esse episódio. Pensei
na interrupção das férias dele, em como a família conviveu com isso, mesmo
sabendo de sua experiência em contraste com riscos enormes. E em meio à comoção
mundial viviam a dor particular da perda de alguém precioso e próximo.
O país de origem do
doutor Harris quer dar a ele o título de cidadão australiano do ano. Não sei se
o médico está interessado nesse tipo de glória, ou se aproveitará isso para
fortalecer ainda mais o comprometimento solidário e a doação de talento por uma
causa maior; possivelmente sim. Também não sei se o fato ocorrido na Tailândia
vai virar série na Netflix ou um candidato ao Oscar.
Mas uma coisa é certa:
um filme passa por nossa mente à medida que sabemos mais sobre esse cidadão e o
que ocorreu na Tailândia. São aquelas passagens que mexem com algo dentro da
gente que dorme a maior parte do tempo. E de repente desperta porque precisamos
disso para dar sentido ao todo. Temos, temos sim, uma capacidade, um dom, um
talento, que pode ser útil para o mundo. Mesmo que, aparentemente, não seja o
nosso mundo, nossa cultura, nosso quintal.
Obrigado Richard, por
não ter medo do escuro.