quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amigo (secreto) é pra essas coisas

Pela  manhã, checando as mensagens, links, possibilidades, contatos e abóboras que navegam pelas redes, bati de frente com o pedido de uma internauta. Ela procurava seus seguidores para que lhe desejassem sorte. O motivo? Era dia de escolha dos nomes do amigo secreto na empresa onde trabalha. A moça deve ter um histórico assustador em eventos do gênero. Só uma enxurrada de presentes do 1,99 faria alguém procurar centenas de outros alguéns para pedir algo assim. “Gente, hoje tem sorteio do amigo secreto, me desejem sorteeeeeee!!!”,  assim mesmo, quase implorando.

Depois de quase censurá-la passei a limpo minha própria trajetória de amigos-secretos, ou ocultos, conforme a região. E  não é que estou pra pedir que me desejem sorte também? Nunca me dei bem em festas assim. Ou o amigo não vai, ou manda alguém dar o presente. Esses são os piores. Compram um vaso, ou um suporte de papel higiênico e deixam para que o Antenor do RH entregue em seu lugar. Não tem nem aquela introdução, que pelo menos dá uma graça e um suspense, além de massagear o ego. “Meu amigo é uma pessoa que todos gostam, é simpático, tem estilo”, frases típicas da hora da revelação e que ficam chatíssimos da décima declaração  em diante. Depois que alguns já receberam e entregaram o presente a conversa aumenta, ninguém mais presta atenção, vira uma coisa. É a hora que a gente promete que nunca  mais entra numa fria assim.

Decidi que se voltar a participar de amigo-secreto será na mais absoluta abnegação. Vai ser na base do é melhor dar do que receber. Tô decidido! Expectativa zero. Se vier algo, maravilha, valeu, foi muito bom. Mas meu negócio agora será dar e me alegrar com a alegria do felizardo. Para provar, já me inscrevi em duas dessas festas e estou me escalando pra mais algumas. E até já comprei uns presentinhos: um CD do Wando,  um tabuleiro com jogo de damas, pen drive de dois giga e o supra-sumo do ano, um controle remoto universal da LJ, isso mesmo, um genérico da LG que o boliviano que me vendeu garantiu que funciona mesmo.  

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sete Pragas


Sete Pragas tinha 74 anos. Santo, seu filho, beirava os 50. Do casamento, ou ajuntamento com alguém de quem ele não falava o nome, nasceu Santinho, que com 10 anos de idade já era especialista em enganação. Junto com Santo e Sete Pragas o garoto já desempenhava papel importante, nos golpes aplicados pela família.
E não tinha muito segredo. A vovó, batizada sabe-se lá porque de Sete Pragas de Jesus, era uma atriz perfeita. Entrava numa agência bancária, com jeito de quem não fez pecado, esperando seu lugar na fila. Só que uma senhora naquela idade não podia esperar. Logo o mar de gente se abria para que ela pudesse chegar, perto da terra prometida do caixa cheio. Era onde começava o show:  falava alto, reclamava do calor, depois vinham as palavras cortadas ao meio, lágrimas, de repente, “ai meu Deus, acho que vou morrer”, gritava, atirando-se nos braços do mais próximo. As atenções estavam nela. Caixas, segurança, gerente, clientes, todos se compadeciam daquela pobre velhinha se despedindo do mundo dos vivos. A deixa ideal. Santinho entrava correndo e em prantos se jogava sobre a avó. Tudo muito bem ensaiado.
Era aí que Santo chegava e anunciava o assalto. De pronto exigia que toda a grana fosse entregue para o quarto membro do grupo, o Jorge Miguel. Um sujeito alto, com uma barba vermelha, sardento como poucos e feio como muitos. Não era muito inteligente, mas servia para encher a sacolinha. A vovó continuava fingindo o desmaio e o netinho virava refém. O desespero se estabelecia e Santo enriquecia. Tudo era ligeiro. Não havia porta giratória e a polícia da cidadezinha contava com uns quatro ou cinco valorosos soldados, devidamente amarrados e amordaçados na noite anterior. Para garantir o golpe o   telefone também era cortado. O corte era sempre feito por Golias, um anão que entendia como poucos de fios de luz e telefone. Depois de se encher de dinheiro, Santo levava o menino e começava a fuga. A vovó ficava. Quem iria desconfiar que aquela senhora, que abriu a fila como quem abre o mar vermelho, era a chefe do bando?
Dava pra fazer o assalto sem a performance da vovó e do garoto? Santo dizia que sim, era só entrar a anunciar a presença do bando, mas não teria a menor graça sem a encenação.
Não sei quantos golpes o bando deu. Disseram que isso durou mais alguns anos. Até que Sete Pragas passou mal de verdade e morreu antes da deixa. Santo ainda tentou uns golpes em carreira solo, sem sucesso.  Santinho fugiu de casa para virar pagodeiro. Até fez m música pro pai,  baleado por um marido ciumento num boteco qualquer. Safadeza do destino, o assassino era segurança de banco. Golias foi preso, mas conseguiu diminuir a pena prestando serviços no presídio. Redução de pena para anão parece piada pronta, mas foi o que aconteceu. Jorge Miguel continua na cadeia. Sem advogado, sem os amigos do bando, acha melhor ficar por ali mesmo. A vida perdeu a graça sem o teatro.

domingo, 14 de novembro de 2010

Pão da vida

Salustiano sempre gostou de pão. Descobriu logo cedo que seria padeiro. E a descoberta veio pelo cheiro; é verdade! Ainda criança, no Maranhão, sua maior alegria era viajar até a cidade com o pai, a mãe e os irmãos na carroça. Pense num trajeto demorado! Parecia que não chegava nunca. Salustiano queria chegar logo na padaria. Sentir o cheirinho do pão quente, feito na hora, comer um bom pedaço, sem perder nem uma casquinha. E não precisava de manteiga não. Mas se tivesse, rapaz...coisa boa demais da conta.
Quando me contou sobre essa paixão, pelo pão que lhe deu vida, Salustiano ficou emocionado com as imagens que sua memória buscou em algum forno do passado. Quando não era possível ir à cidade, o padeiro surgia lá na curva da estradinha, com dois jacás, ou cestos - tratou de explicar logo e socorrer minha ignorância. E quando o jumentinho carregado de pão aparecia, que festa. A alegria começava pelo estômago e enchia a boca de água. O pãozinho deles de cada semana estava chegando. E nem sempre era possível comprar. Outra lembrança, agora já não tão saborosa.
Naquelas idas e vindas da cidade, ou no caminho que o padeiro fazia, nasceu um sonho, vocação, um objetivo: Salustiano decidiu que seria padeiro. Hoje, quando entro em sua padaria, que fica bem perto de casa e que ele abre bem cedinho, é dessa história que me lembro. Não posso deixar de comprar o pão ali. É  mais do que ser cliente. Virei fã! E o pão é bom mesmo. Como até as migalhas.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Frases de Banheiro - Sensação Profunda - Crônica publicada no Diário da Amazônia dia 11.11.10


Sempre fui apaixonado por frases, citações, insights criativos, aquelas tiradas geniais que lemos ou um amigo solta assim, do nada. Algumas vezes graças ao embalo de uns goles a mais, não importa. O que vale é a palavra que fica. Mas as frases de banheiro sempre causaram em mim uma curiosidade digestiva. Talvez por nunca ter conseguido escrever nada naquelas portas em momentos de absoluta solidão e esvaziamento.
O pior é que tem algumas delas que mexem com a gente, numa hora em que mexer é algo improvável e quase impossível. “Enquanto você está aí cagando, tem um japonês estudando”. Ora, que frase é essa? Quer dizer que ele não vai ao banheiro nunca? Ou estuda sentado no vaso? Só faltava eu descobrir que japonês estuda até nessa hora. Momento que combina mais com um gibizinho, uma revista, um livro ou até mesmo uma tuitadazinha no smartphone. Mas estudar não . Vira um entra e sai desconectado.
Tem outra que é fantástica: “Aqui termina a obra de um grande cozinheiro.” Nem sempre. Muitas vezes ali começa a obra de uma péssima refeição. Passa a ser o maior dos alívios. Acho que as grandes inspirações nos banheiros nasceram na hora da dor de barriga. Claro que a maioria delas não pode nem chegar perto desta página. Mas certamente você já leu muitas. E  tem uma que acho genial: “Eu sei que isso não foi um espirro… Mas mesmo assim… Saúde!”
Tinha  curiosidade de saber qual é a realidade dos banheiros femininos. Se elas são tão criativas e inspiradas quanto os homens. Alguns verdadeiros mestres na arte da escrita latriniana. A internet, por exemplo, até já segmentou o tema. Tem páginas só com frases escritas em banheiros masculinos. Outras só para aquelas feitas na escola. E tem site especializado no tema, que introduz o assunto com uma verdadeira aula de história dos vasos sanitários. Foi num deles que aprendi que na Roma antiga era comum a utilização de banheiros públicos para homens e mulheres. Isso mesmo! Tudo misturado. E alguns desses banheiros eram usados para longos e acalorados debates. Certamente a frase “esse assunto está me cheirando mal”, nasceu ali.
E foi graças a segmentação que descobri que elas são criativas e bem-humoradas. Ainda bem que existe o Google. Já pensou que explicação eu teria que dar se fosse flagrado fazendo a pesquisa na porta do banheiro delas? E foi uma mulher que escreveu: “O casamento em si não é problema, o problema é o casamento em mim.”
Legal é a iniciativa do Museu da Língua Portuguesa. Antes que escrevessem algo nas portas do banheiro, tratou de registrar ali algumas frases. Medida preventiva e criativa. “A lei dos odores ainda não foi promulgada, mas virá reinar sobre nossos cérebros; prefere teu nariz, a todos os outros órgãos”. Humm, sei não; prefiro a lei da gravidade!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Você conhece Gareth Bale?

Existe vida...
Quem acompanha o futebol internacional também descobriu o novo talento da bola: Gareth Bale. O ala do Tottenham e da seleção do País de Gales, é o podemos chamar de jogador moderno. Contra a Internazionale de Milão, pela Copa dos Campeões da Europa, marcou três gols no primeiro jogo e deu assistência para outros três partida da volta. Jogos em que deixou com a maior dor de cabeça dois brasileiros, Maicon e Lúcio. O lateral da Inter não economizou elogios ao jovem talento galês, seu algoz nos duelos da UEFA.
Lá fora
Por que, cargas d’água, resolvi falar de um jogador estrangeiro? Simplesmente porque o futebol do rapaz é de encher os olhos mesmo. Além disso, creio que o fracasso na Copa nos serviu como lição de humildade. Temos jogadores talentosos, isso é indiscutível, mas também precisamos dar uma olhada lá fora para ver o que os talentos de outros estão fazendo e como o futebol tem mudado suas características.
Bota ponta!
Bale, o personagem de hoje,  atua pela faixa lateral do gramado. Mas seu ídolo é um atacante: Ronaldo, o Fenômeno. O que isso quer dizer? Que ele é um ala que busca o gol,  quer o ataque, joga em direção à meta adversária. Também quer dizer que nosso futebol, como diz meu amigo Ronald Lage, precisa sair da faixa entre os bicos das grandes áreas e deixar o balão de lado. Lembra do personagem do Jô que vivia pedindo um ponta? Pois é. Não que eu esteja pregando a volta dos pontas,  mas uma melhor utilização das laterais. O garoto de quem falo é um exemplo. Faz cruzamentos mortais e quando necessário joga por dentro, como poucos.
Escassez de 10
E aqui por perto temos outros exemplos de jogadores que podem inspirar e mexer com nosso cenário pouco criativo. Você já conhece Montillo, é claro. O craque do Cruzeiro que usa a 10 como ela merece. Tem também o Conca, outro craque que engrandece o Brasileirão. Mas já ouviu falar de Jorquera, Medel, Mosquera, Flores, Rodrigues, Torres, Fórmica, Ramirez e Grazzini? Eles  são outros meias que por ora estão na Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia, prontinhos para a importação barata. Enquanto nossos camisas 10 permanecerem como marcadores e segundos-volantes, que tal mais algumas pitadas de talento de fora? Até que um dia voltemos a deixar, nas categorias de base, que os jogadores criativos continuem criando.
Good bye
Enquanto isso, nossa esperança de voltar a ser o 10 prepara sua malas rumo ao futebol dos Estados Unidos. Ronaldinho Gaúcho recebeu proposta do Galaxy, de Los Angeles, time de Beckham. Com seu contrato a caminho do fim, o brasileiro pode encerrar a carreira longe do topo, mas com a conta cheia.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O labirinto

O labirinto

O mundo passou por muitas mudanças. Não é preciso mais lavar fraldas, nem levantar para mudar de canal, nem rodar a manivela para fechar o vidro do carro, nem escrever uma carta, nem fazer comida, nem um mundaréu de coisas. Está tudo mais fácil, prático, confortável, dinâmico, acessível, rápido, simples. Bem, nem tudo está tão simples assim. Entender como funciona a cobrança da conta telefônica é algo que ainda me parece complicado. Mas isso talvez seja  só comigo.
Mas hoje, quando circulava pelos corredores do supermercado, à procura de ingredientes para fazer aquele que minha família chamaria de meu melhor macarrão dos últimos tempos, notei que algo não mudou, e talvez nunca mude: homem não sabe fazer compra!
Pode ver. Pode perguntar. Reflita: no comando de um carrinho de compras somos os últimos colocados. Não encontramos os produtos. E demoramos ainda mais porque além do orgulho masculino de evitar ao máximo pedir qualquer informação, nossa visão pouco periférica impede que olhemos para as placas sobre as gôndolas. Homem odeia o que parece óbvio, porque tem um prazer indescritível em complicar as coisas. Precisa sempre dar seu parecer, sua opinião mais abalizada e contundente. Por isso demora uma década num local onde elas entram e saem como se tivessem nascido entre a seção de frios e o caixa.
Isso não é sinal de preconceito não. Nem sou daqueles que acham que lugar de mulher é pilotando um fogão. Até porque, quando o homem põe a mão na massa, sai o perdido no supermercado e entra o superchef. Portanto, nada de interpretar que eu acho isso ou aquilo a respeito delas. Apenas escrevo sobre uma constatação. Não recebemos o chip para comprar direito, e pronto.
O maracujá tem que estar mais pesado, o limão mais fofinho, o mamão tem e a cor certa e o abacate tem que ser comprado um pouco antes do ponto, nem mais nem menos. Olha isso! Se não fossem algumas instruções que elas passaram, estaríamos na seção de frutas e verduras até hoje. Apodrecendo entre as maças argentinas e as bananas nanicas. Que de nanicas não tem nada. Outra coisa que não entendo.
E o preço? Eis aí outro território que não dominamos. Homem bate o olho, gosta e compra. Ou compra e gosta. Uma calculadora não mão? Pelamordedeus!!! Nunca vi um marmanjo com uma dessas em corredor algum. Seria a vergonha das vergonhas. Lista também não pega bem. Elas mandam a gente para o desafio da compra e lá vamos nós com a memória de nunca e a pouca paciência de sempre. O resultado você já sabe. O arroz não era aquele, o pão era integral e o papel higiênico não precisava ser azul.
O bom de tudo isso é que a revolução de costumes está nos obrigando a repensar muita coisa e aprender várias outras. E tem suas vantagens. A escala para o supermercado não é tão terrível assim. Vem com  suas compensações. Sozinhos, conseguimos pegar uma caixa de chocolate que não estava no script, um vinho que jamais entraria na lista e vários daqueles itens que ficam na cara do caixa. Claro que a conta passa do limite. O que pode ser uma tática inteligente. Se elas quiserem economizar, vão acabar tendo que fazer aquilo para o qual já sabem que não estamos preparados. Ou aceitar que homem em supermercado é como uma criança grande. Se contenta só com o que o deixa contente. A diferença é que a birra ele só faz em casa. Melhor elas irem com os filhos. Mas, por favor, não esqueçam o  danoninho!