Com o passar do tempo me descobri portador de dores que eu desconhecia. Não falo daqueles gemidos inevitáveis ao tentar fazer um movimento outrora mais leve, elástico e coreográfico. Essa dor já é anunciada, bate ponto todas as manhãs no estalar dos ossos.
Me refiro
a um outro tipo de incômodo dolorido. Tem mais a ver com a parte interior do
interior, o oceano profundo do que imaginamos ser a vida.
Lá, nessa imensidão que a
maioria desconhece, por não ter paciência para chegar, nem fôlego para
alcançar, existem outras realidades nossas. Ali residem também quase todos os
grandes medos, as criaturas da nossa insegurança, os recifes de coral dos nossos
traumas. E o pior: num silêncio assustadoramente ruidoso.
Em determinados momentos
da vida, por algumas circunstâncias que nos pegam meio de tanque vazio,
acabamos afundando até esse mar profundo. Por incrível que pareça, um anestesiamento
necessário nos faz enxergar naquela escuridão; respirar onde não parecia
possível e até falar sem palavras.
Uma espécie de telepatia
celestial, mesmo parecendo estar perto de um inferno.
Os bons mergulhadores
entenderão...
E também, os que mesmo
sem saber mergulhar até esse ponto da existência tiveram que bater o pé no
fundo e tentar sair de volta. O que é como retornar de um sonho ruim, um mover
de pés e mãos em conflito, num grito afogado.
Mas a gente sai. Volta à
tona, nada até a praia, se auto socorre e não morre. Mesmo
que paremos na areia seja de uma ilha deserta... é melhor do que cair num
aquário.