segunda-feira, 27 de março de 2017

La delgada linea amarilla


Já me peguei pensando que a vida é uma estrada sem volta. Não que isso seja novidade ou alguém já não tenha dito.  É que assisti a um filme mexicano onde alguns operários vão descortinando suas vidas, enquanto trabalham de forma precária pintando faixas amarelas no meio da rodovia. Além de ser uma excelente película, o filme me fez pensar na tal estrada da vida e como a percorremos.

Aqueles homens faziam o trabalho a pé. Cada passo era importante. Quilômetros vencidos transformavam-se  numa conquista e tanto. Uma sombra para descansar, um vilarejo para uma boa comida ou até mesmo um riacho numa pausa de um raro banho, tratavam-se de momentos extraordinários, vividos intensamente.

Lá fui eu pensar de novo. E hoje, no dia seguinte, ainda estou refletindo sobre. Talvez eu esteja percorrendo os meus quilômetros rápido demais. Sem as pausas devidas. Não conseguindo observar o desenho do horizonte, o sol se pondo, a chuva caindo, as pessoas e suas histórias, não piores nem melhores que as minhas, mas tão ou mais importantes...

Talvez não esteja percebendo o valor da faixa amarela. O quanto ela é fundamental para que eu não ultrapasse, não seja atingido, ou ande mais devagar.


Olha só! Notei agora que  esse texto de hoje escrevi mais lentamente. Lendo e relendo cada palavra. Sem me preocupar se é uma prosa gigante como uma longa reta ou só mais uma pequena curva. Isso não importa. O que vale mesmo é essa desacelerada. Quem sabe uma parada. Nem que seja para ver se minhas linhas amarelas estão vivas, retas e bem pintadas.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Cucumbrianos                                           

Não eram tolos, mas também não  eram o maior exemplo de sabedoria e desenvolvimento. O povo de Cucumbria era do tipo pacato, sem compromisso, uma espécie de não querer querendo. Boas praias, algumas regiões mais ricas que outras, clima agradável, lugar  bom de se morar; se o morador não fosse muito exigente.

Como os cucumbrianos não eram muito chegados ao esforço, hora marcada, planejamento, cuidados com a saúde, saneamento e segurança, entre outras cucumbrices, o visitante tinha sempre que buscar  uma certa compensação. Ora recordando que em poucos lugares do mundo o povo era tão  alegre e cheio de vida, ora observando as belezas naturais. E, seguindo o pensamento local, sempre acreditando que um dia a coisa ia dar certo. Uma hora melhora! Essa, por sinal, era a frase cucumbriana preferida.

Conheci muitos de lá. Alguns até estavam determinados a mudar. Buscar novos ares. Mas a maioria vivia conformada. E com um senso de humor incrível. O que para muitos estrangeiros era surpreendente. Uma corrupção endêmica e índices medíocres de educação e desenvolvimento humano eram enredo mais para lágrimas do que gargalhadas. Mas Cucumbria sempre foi assim. Sabia rir de sua própria dor. E se orgulhava de ser um lugar que Deus tinha abençoado. Livrando sua terra de terremotos, tufões, furacões e argentinos. Que para eles, eram  a verdadeira desgraça.


Não sei se neste ano as coisas podem melhorar por lá. O calendário deles é meio diferente. Tipo o chinês ou o maia. Tudo começa depois de uma grande festa, que toma as ruas da cidade e chega a parar o país por uma semana. Em alguns lugares até mais. Como a festa acontece dois meses depois  do começo do ano e a agenda local é generosa em feriados,  tudo indica que o sucesso, se um dia vier,  não será fruto de muito trabalho. Pode acontecer mais por acaso mesmo. Os cucumbrianos acreditam que sim. Sempre foram  um povo de muita fé. E lá, dizem, ela não costuma faiá.