sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Juntando os cacos

 


                            

Ainda há pedaços da Pandemia por aí. Quem perdeu gente ficará em pedaços para sempre. A dor do outro, ampliada quase 700 mil vezes só no Brasil, tem feridas escancaradas nas sequelas e lembranças de um calendário recente, que ainda está em aberto. A doença vai e vem. Com ela vivenciamos mudanças aceleradas. Nos tornamos mais touch e mais on em pouco tempo. Aprendemos a lidar com o artificial como se natural fosse. E o natural perdeu um pouco o sentido, precisando de um upgrade de memória para nos lembrarmos que há muito pouco tempo  a gente conversava pessoalmente.

Longe de mim querer discursar contra os avanços ou aceleração de processos. Tem muita coisa positiva na rotina mais ágil e prática oferecida pela  tecnologia  em seus novos portais de acesso. Assim caminha hoje a humanidade. Sem pausas e sem retrocesso.

O ponto para  manter a linha desse pensamento é prático também. Embora dispense os robôs por ora, para falar de humano pra humano. Aqui, entre nós!

Você deve ter visto a  cena na virada de ano, com milhares de pessoas registrando os fogos  num ponto turístico e ninguém, ninguém mesmo, se abraçando. Lindo de se ver, com todos aqueles celulares brilhando em direção ao céu iluminado. Mas, ops, pera ai... O Reveillon pós pandemia virou um Happy New Year individual e instagrâmico? A postagem ou o registro valem mais que o abraço de feliz ano novo? Pare o carro, quero descer.

 

Tudo bem uma foto e vídeo do céu flamejante. Quem nunca! Mas é de um contexto inteiro que desejo falar e buscar também tua opinião e reflexão. Será que depois de tanto ficar em casa, ao sair nos desplugamos da conexão viva para apontar o foco e mente em direção ao registro momentâneo? Quanto tempo e quanto custa esse tempo dedicado ao culto selfie? Tem uma epidemia invisível no ar?

 

Antes que eu não responda, deixa eu te dizer: dia desses, molhando as plantinhas no quintal,  e depois brincando com filhota no parque e correndo na pista sem fone e sem net, respirei tão fundo o ar puro da minha cidade que até estranhei. Oxigenei-me de simplicidade. Quando vi, tinha desligado, sem precisar me ausentar das obrigações. Antes que me enxergasse ainda mais em pedaços comecei a juntar cacos. Os que são meus e os que pertencem às vidas que são vida comigo. Partes de um mesmo quebra-cabeças, que também tem coração. Entre pandemias...