quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sávio do livro

Ele chega cedo. Com seu carrinho a reboque aparece na praça para vender os livros. A cada dia o sebomóvel do Sávio está mais cheio de novidades. Sempre pela região do Flamengo, o livreiro, que é conhecido de toda a vizinhança, fez da paixão pelas letras um empreendimento de sucesso. Espalha Machado, Tolstoi, Clarice, Monteiro Lobato por toda a extensão da calçada.
Livros que um dia custaram uma grana preta hoje adormecem por ali. A partir de um real é possível encontrar uma boa leitura. Com três reais dá pra levar um clássico. Com dez  então, felicidade garantida.Também por conta do vendedor: Sávio é entendido do assunto. Conhece os autores, fala com paixão sobre dramas, romances, policiais,  crônicas, poesia. E não despreza ninguém. Escreveu, publicou, valeu. O livreiro da praça admira a todos. Sabe o valor da palavra, mesmo que ela custe tão pouco.
Quando o conheci, numa dessas viagens ao Rio que todo mundo deve fazer, comprei, conversei, especulei... passei a admirar seu trabalho. Sávio é um homem  apaixonado pelo que faz. E que ninguém diga que é pirataria. Ele não copiou nada, na verdade adotou livros que ninguém mais queria e lhes deu uma  chance. Comparei o que Sávio faz aos  brinquedos do desenho Toy Story. Com sua oportunidade de voltar para os braços de uma criança feliz.
Soube que o livreiro agora entrou numa nova empreitada. Subiu o Morro do Alemão. Decidiu que além do Bope a comunidade precisa dos livros. Montou a Unidade de Leitura Pacificadora. Uma vez por semana vai distribuir livros para os moradores. A ideia é voltar na semana seguinte, recolher os que deixou e entregar outros. De revista em quadrinhos ao romance Guerra e Paz de capa dura. No morro ninguém paga nada. Sávio do Livro agora também é uma empresa de responsabilidade social. Com todas as letras!