quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Entre datas e beijos

De todas as festas, as de fim de ano são as que mais me deixam sem saber o que fazer. Já desejei feliz ano novo pra muita gente que não vi no ano seguinte inteiro, e feliz natal para quem eu nem sabia se merecia ter nascido. Em aniversários, casamentos, formaturas, batizados e inaugurações a coisa me parece mais fácil. Mas o Natal, por exemplo, é complicado por sua própria natureza. Nasceu o Salvador, ok, concordo, embora saiba que a data não bate. Mas tudo bem. Se  tem que ser um dia, que seja pertinho do fim do ano. O que para o brasileiro é quase perfeito. O sonho de consumo é uma emendada com Janeiro, Fevereiro, no melhor estilo republicano. Mas e o  menino? Dele quase ninguém lembra mais. O Papai Noel tomou conta do babado. Parece até aquele rapaz do canal de vendas pela TV: compre, compre, compre...
Já o Réveillon, palavra cada vez menos usada, é o segundo tempo do Natal. Mas tem seus complicadores também. A chatice da data aumenta à medida que a gente navega pelas mídias. As duas últimas semanas do ano parecem não existir. Tudo o que tinha que ter acontecido já foi... “Não espere nada! Deixe para o ano que vem e coma, beba, se lambuze. Entre uma refeição gigantesca e outra, reflita, medite, repense, planeje, sonhe”. De que jeito? É congestão na certa...
Por falar em comida, algumas delas ainda não me convenceram. O peru, por exemplo. Carne mais sem graça. Sequinha, branquinha, durinha. Pra piorar geralmente vem rodeada de coisas doces. E as lentilhas... Até gosto de uma sopinha cheia delas, só não consigo ligar aquelas bolinhas verdes achatadas a uma refeição farta e suculenta. E depois do que Jacó fez com Esaú, não tem como acreditar que dão sorte. Peru e lentilha tem mais apelo para quem quer começar a dieta do ano seguinte.
E as simpatias? Ah, a virada de ano. Escrever numa folha de papel tudo o que foi ruim e deixou a gente triste. Depois queimar, desmaterializando tudo o mal. Aí, no dia primeiro, escrever o que se  almeja para o ano que começa. Tem aquela da taça da prosperidade. Só que nessa é preciso comprar o cristal certo, trocar a água sempre. Dá tanto trabalho, que se eu me dedicar assim no que faço é bem capaz de obter um sucesso cristalizado, sem precisar da simpatia.
Bem, claro que mesmo azedo em relação ao que o dinheiro tem feito com o calendário, desejo um  2011 com a casa arrumada para todos. A data está aí. E se for pra mudar alguma coisa que seja a partir  da simpatia do sorriso. Que o presente seja o estar junto. E a prosperidade  para todos. E que você seja mais feliz, sem precisar olhar pra agenda.