quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O labirinto

O labirinto

O mundo passou por muitas mudanças. Não é preciso mais lavar fraldas, nem levantar para mudar de canal, nem rodar a manivela para fechar o vidro do carro, nem escrever uma carta, nem fazer comida, nem um mundaréu de coisas. Está tudo mais fácil, prático, confortável, dinâmico, acessível, rápido, simples. Bem, nem tudo está tão simples assim. Entender como funciona a cobrança da conta telefônica é algo que ainda me parece complicado. Mas isso talvez seja  só comigo.
Mas hoje, quando circulava pelos corredores do supermercado, à procura de ingredientes para fazer aquele que minha família chamaria de meu melhor macarrão dos últimos tempos, notei que algo não mudou, e talvez nunca mude: homem não sabe fazer compra!
Pode ver. Pode perguntar. Reflita: no comando de um carrinho de compras somos os últimos colocados. Não encontramos os produtos. E demoramos ainda mais porque além do orgulho masculino de evitar ao máximo pedir qualquer informação, nossa visão pouco periférica impede que olhemos para as placas sobre as gôndolas. Homem odeia o que parece óbvio, porque tem um prazer indescritível em complicar as coisas. Precisa sempre dar seu parecer, sua opinião mais abalizada e contundente. Por isso demora uma década num local onde elas entram e saem como se tivessem nascido entre a seção de frios e o caixa.
Isso não é sinal de preconceito não. Nem sou daqueles que acham que lugar de mulher é pilotando um fogão. Até porque, quando o homem põe a mão na massa, sai o perdido no supermercado e entra o superchef. Portanto, nada de interpretar que eu acho isso ou aquilo a respeito delas. Apenas escrevo sobre uma constatação. Não recebemos o chip para comprar direito, e pronto.
O maracujá tem que estar mais pesado, o limão mais fofinho, o mamão tem e a cor certa e o abacate tem que ser comprado um pouco antes do ponto, nem mais nem menos. Olha isso! Se não fossem algumas instruções que elas passaram, estaríamos na seção de frutas e verduras até hoje. Apodrecendo entre as maças argentinas e as bananas nanicas. Que de nanicas não tem nada. Outra coisa que não entendo.
E o preço? Eis aí outro território que não dominamos. Homem bate o olho, gosta e compra. Ou compra e gosta. Uma calculadora não mão? Pelamordedeus!!! Nunca vi um marmanjo com uma dessas em corredor algum. Seria a vergonha das vergonhas. Lista também não pega bem. Elas mandam a gente para o desafio da compra e lá vamos nós com a memória de nunca e a pouca paciência de sempre. O resultado você já sabe. O arroz não era aquele, o pão era integral e o papel higiênico não precisava ser azul.
O bom de tudo isso é que a revolução de costumes está nos obrigando a repensar muita coisa e aprender várias outras. E tem suas vantagens. A escala para o supermercado não é tão terrível assim. Vem com  suas compensações. Sozinhos, conseguimos pegar uma caixa de chocolate que não estava no script, um vinho que jamais entraria na lista e vários daqueles itens que ficam na cara do caixa. Claro que a conta passa do limite. O que pode ser uma tática inteligente. Se elas quiserem economizar, vão acabar tendo que fazer aquilo para o qual já sabem que não estamos preparados. Ou aceitar que homem em supermercado é como uma criança grande. Se contenta só com o que o deixa contente. A diferença é que a birra ele só faz em casa. Melhor elas irem com os filhos. Mas, por favor, não esqueçam o  danoninho!