quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sete Pragas


Sete Pragas tinha 74 anos. Santo, seu filho, beirava os 50. Do casamento, ou ajuntamento com alguém de quem ele não falava o nome, nasceu Santinho, que com 10 anos de idade já era especialista em enganação. Junto com Santo e Sete Pragas o garoto já desempenhava papel importante, nos golpes aplicados pela família.
E não tinha muito segredo. A vovó, batizada sabe-se lá porque de Sete Pragas de Jesus, era uma atriz perfeita. Entrava numa agência bancária, com jeito de quem não fez pecado, esperando seu lugar na fila. Só que uma senhora naquela idade não podia esperar. Logo o mar de gente se abria para que ela pudesse chegar, perto da terra prometida do caixa cheio. Era onde começava o show:  falava alto, reclamava do calor, depois vinham as palavras cortadas ao meio, lágrimas, de repente, “ai meu Deus, acho que vou morrer”, gritava, atirando-se nos braços do mais próximo. As atenções estavam nela. Caixas, segurança, gerente, clientes, todos se compadeciam daquela pobre velhinha se despedindo do mundo dos vivos. A deixa ideal. Santinho entrava correndo e em prantos se jogava sobre a avó. Tudo muito bem ensaiado.
Era aí que Santo chegava e anunciava o assalto. De pronto exigia que toda a grana fosse entregue para o quarto membro do grupo, o Jorge Miguel. Um sujeito alto, com uma barba vermelha, sardento como poucos e feio como muitos. Não era muito inteligente, mas servia para encher a sacolinha. A vovó continuava fingindo o desmaio e o netinho virava refém. O desespero se estabelecia e Santo enriquecia. Tudo era ligeiro. Não havia porta giratória e a polícia da cidadezinha contava com uns quatro ou cinco valorosos soldados, devidamente amarrados e amordaçados na noite anterior. Para garantir o golpe o   telefone também era cortado. O corte era sempre feito por Golias, um anão que entendia como poucos de fios de luz e telefone. Depois de se encher de dinheiro, Santo levava o menino e começava a fuga. A vovó ficava. Quem iria desconfiar que aquela senhora, que abriu a fila como quem abre o mar vermelho, era a chefe do bando?
Dava pra fazer o assalto sem a performance da vovó e do garoto? Santo dizia que sim, era só entrar a anunciar a presença do bando, mas não teria a menor graça sem a encenação.
Não sei quantos golpes o bando deu. Disseram que isso durou mais alguns anos. Até que Sete Pragas passou mal de verdade e morreu antes da deixa. Santo ainda tentou uns golpes em carreira solo, sem sucesso.  Santinho fugiu de casa para virar pagodeiro. Até fez m música pro pai,  baleado por um marido ciumento num boteco qualquer. Safadeza do destino, o assassino era segurança de banco. Golias foi preso, mas conseguiu diminuir a pena prestando serviços no presídio. Redução de pena para anão parece piada pronta, mas foi o que aconteceu. Jorge Miguel continua na cadeia. Sem advogado, sem os amigos do bando, acha melhor ficar por ali mesmo. A vida perdeu a graça sem o teatro.