domingo, 14 de novembro de 2010

Pão da vida

Salustiano sempre gostou de pão. Descobriu logo cedo que seria padeiro. E a descoberta veio pelo cheiro; é verdade! Ainda criança, no Maranhão, sua maior alegria era viajar até a cidade com o pai, a mãe e os irmãos na carroça. Pense num trajeto demorado! Parecia que não chegava nunca. Salustiano queria chegar logo na padaria. Sentir o cheirinho do pão quente, feito na hora, comer um bom pedaço, sem perder nem uma casquinha. E não precisava de manteiga não. Mas se tivesse, rapaz...coisa boa demais da conta.
Quando me contou sobre essa paixão, pelo pão que lhe deu vida, Salustiano ficou emocionado com as imagens que sua memória buscou em algum forno do passado. Quando não era possível ir à cidade, o padeiro surgia lá na curva da estradinha, com dois jacás, ou cestos - tratou de explicar logo e socorrer minha ignorância. E quando o jumentinho carregado de pão aparecia, que festa. A alegria começava pelo estômago e enchia a boca de água. O pãozinho deles de cada semana estava chegando. E nem sempre era possível comprar. Outra lembrança, agora já não tão saborosa.
Naquelas idas e vindas da cidade, ou no caminho que o padeiro fazia, nasceu um sonho, vocação, um objetivo: Salustiano decidiu que seria padeiro. Hoje, quando entro em sua padaria, que fica bem perto de casa e que ele abre bem cedinho, é dessa história que me lembro. Não posso deixar de comprar o pão ali. É  mais do que ser cliente. Virei fã! E o pão é bom mesmo. Como até as migalhas.