quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um abraço Juvenal!

Talvez Clarice Lispector não escrevesse “me abrace, que no abraço mais do que em palavras, as pessoas se gostam”, se tivesse conhecido o Juvenal. Bom amigo, ombro pra qualquer choro, solícito a toda hora. Mas era doido por um abraço. E o abraço dele era demorado. Apertado. E de cara. Não tinha aperto de mão. Lascava logo um quebra costela. Juvenal esse é fulano de tal, fulano de tal, Juve... antes de terminar os teretetês da apresentação ele se aninhava.
Só que a situação começou a ficar complicada. Tudo bem você abraçar um amigo que não vê há um tempo. Ou um abraço de consolo por uma dor qualquer. Um cumprimento mais chegado por causa de uma promoção. Mas abraçar toda vez que encontra alguém? É demais... É gastar  todos eles numa tacada só. Abraço devia ter limite e regra. Passado um tempo, aniversário, velório, gol, ou  uma ou outra ocasião e pronto. Fora isso basta um sorriso, um aperto de mão, um beijo, dependendo do caso. Porque tem também a turma do beijo. Vai logo lascando uma bicota, sem saber se é a hora e a pessoa certa.
Juvenal não tinha simancol. Não queria saber se a pessoa era casada, se o companheiro era ciumento, se era recomendável, se você estava a fim. Ele chegava,  e apertava. Em alguns mais próximos dava até um beijinho no ombro, acredita? E assim, aos poucos, foi espalhando as rodinhas. Ninguém aguentava mais. Mas também ninguém queria falar pra ele. Juvenal era órfão, tinha suas dores, chorava por qualquer coisa. Era capaz de ouvir uma crítica sobre o abraço e ficar abraçado por horas. Quem ia ter coragem de dizer?
Um dia, a filha do chefe, seu Lindomar, moça linda, vistosa, abraçavel, foi apresentada como  gerente de vendas. Foi  um desastre. Assim que viu a moça Juvenal ficou louco. Tremeu dos pés à cabeça. Precisava abraçar. Foi quando aconteceu o pior. Na hora que seu Lindomar chamou a filha para conhecer o colega  Juvenal não titubeou. Deu um abraço tão apertado que quebrou a costela da menina. O grito de dor só foi mais baixo que o do chefe: “Juvenal, vai abraçar apertado assim a tua mãe”, disse seu Lindomar, esquecendo que a falta da mãe era a dor do cara. Enquanto a moça era socorrida, Juvenal pulou em cima do chefe. O abraço de urso só não matou o homem porque na turma do deixa-disso tinha um mestre de aikidô que conseguiu tirar Juvenal de cima dele. Depois disso sumiu. Não escreveu, não ficou on line, nem abraço mandou mais. Até porque, abraço pra ele tem que ser pessoalmente.