quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cadê o lanterninha?

Eu tinha tudo pra não gostar de cinema. Minha primeira experiência com a telona foi um desastre. Com quatro anos meu pai me levou para ver My Fair Lady. Acertou o filme mas errou a época. Um garoto na minha idade não ficaria sossegado vendo um musical que conta a história de uma mendiga que vendia  flores para sobreviver. Só fui fazer as pazes e me apaixonar pelo filme muito tempo depois. Naquele dia, seu Benedicto teve que sair antes da sessão terminar. Não aguentou a choradeira. Eu queria  voltar pra TV preto e branco lá de casa e ver Batman, Perdidos no Espaço, Jornada nas Estrelas e Viagem ao Túnel do Tempo.

Quando tinha 11 anos veio outra decepção: fui barrado na entrada de Tubarão. O filme que lotou salas de cinema do mundo todo havia chegado a Araçatuba. Fiquei horas na longa fila, ao lado de uma turminha. Todos com mais de 12 anos. Foi aí que o caldo engrossou. O porteiro bateu o olho naquele moleque mirradinho e decretou a sentença: Não entra! Além de ser pequeno tinha a desvantagem de ter cara de muito mais novo. Só mais tarde fui descobrir a vantagem de parecer mais jovem. Naquele dia perdi o filme e peguei raiva. Demorei muito tempo pra assistir e descobrir que já não se faz mais censura como antigamente.

E foi com outro filme de Spilberg que descobri que dou azar em sala de cinema. Sempre quem senta na fila de trás fala muito. É batata! Quando rompi  a longa fila de espera para poder ver E.T., consegui um lugarzinho quase sagrado. Bem no meio, pra não perder nenhum detalhe. Quem dera. Atrás de mim estava uma senhora acompanhada por quatro filhos. Mais seres de outro planeta do que o personagem na tela. Sem contar que ela falou o tempo todo. Meu Deus,  esse que é o etê? Que bicho feio? Como podem deixar criança ver uma coisa dessas? Para quieto menino, não gruda esse chiclete aí não. Nossa Senhora, que monstrinho esse bicho aí. Ai, não quero nem ver... E assim foi. Nunca me esqueci dela, nem do quarteto fantástico que barbarizou mais uma sessão de cinema em minha vida.

De lá pra cá a história se repete. Se a fila estiver longa demais, já começo a ter calafrios. Quando levo as filhotas então, é certo que aquele baixinho que mais agita enquanto o pai compra pipoca, vai me encontrar lá dentro. Tem também gente com celular, conversa fiada, casal brigando, pé na cabeça, chute na poltrona, barulho de pacote abrindo,  ronco. Eles estão sempre por perto. Coisa de cinema!

Mesmo assim, superando os traumas, aprendi a amar a sétima arte. Cinema nacional, francês, japonês, italiano, argentino, espanhol, ou do circuito comercial com cara de coisa boa. Tanto faz. Mas fujo das sessões mais concorridas como Drácula foge da cruz. Vou só  na boa. Sou daqueles que vão para ver o filme.