quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Medo gigante


Eu não tinha medo de certos brinquedos no parque de diversões. Se bem que o máximo da brincadeira na época era o trem fantasma. Quando conheci a montanha russa a União Soviética já estava quase no fim. Descia a ladeira. No carrinho de trombada, como a gente chamava o bate-bate, sonhávamos com um volante de verdade e a direção de um carro pelas ruas. Que escola era essa hein? Aprendíamos a bater desde cedo.

Confesso que por mais ligh e romântica que possa parecer, eu nunca gostei da roda-gigante. Aquela parada lá no alto, pra gente apreciar a vista, já indicava que eu seria uma vítima do medo das alturas. Voar não. Disso eu gosto muito. O drama sempre foi a sacada, beiradas em lugares altos e sim, a cabinezinha aberta, o vento, a olhada pra baixo…uff! Deu calafrios só de escrever sobre…

Fui com a família num Parque de Diversões, durante a Festa do Peão em Barretos. Quer dizer, para minha alegria apenas passamos pelo parque para ver o povo se divertindo (sofrendo) em alguns brinquedos mais modernos. Enquanto observava o trem fantasma jogado às traças, e o Viking, que balança mais não cai, também abandonado, um tal de Evolution fazia a cabeça da meninada. E bota fazer a cabeça nisso. O equipamento não só gira numa velocidade incrível como também para no alto. Mas nada que se compare ao slow motion, com todos sentadinhos, da roda-gigante. Esse brinquedo é para malucos. Como vários outros que vi e não me vi neles nem em sonho.

Sim, eu sei que você  está me chamando de medroso, bunda-mole ou coisas do gênero. E eu já assumi que sou. E à medida que a idade avança, a não ser que sejamos aqueles loucos aventureiros que pioram conforme o cabelo fica mais branco, a tendência é sentirmos medo mesmo.

Mas é divertido ouvir aquela gritaria e o pavor passageiro dos passageiros em busca de aventura, adrenalina, desafios. Divertido e assustador. Não tem uma pessoa que não fique pensando: e se não der certo? E se o equipamento falhar? E se alguém cair…

Ainda bem que na Festa tudo parecia muito seguro. E o entra-e-sai dos brinquedos mais excitantes comprova que as gerações que passam querem cada vez mais romper barreiras. Emoção por emoção. Prazer por prazer. É assim que as coisas são e assim que as pessoas estão. Falar de medo de roda-gigante agora parece até inadequado. Coisa de gente nostálgica. E não quero parecer o chato que acha que antes é que era bom. Antes era bom, mas hoje também é. Depende de como vivemos, servimos, observamos, compreendemos o tudo ao redor.

Mas existe um medo hoje que é maior e que ninguém gostaria de ter. O medo da violência, do bate-bate de verdade nas ruas, da corrupção nas alturas, sem que haja alguém para desligar as máquinas  do trem da alegria. Que é pior do que o trem fantasma porque é de verdade. E tira da saúde, da educação, da segurança, da vida do cidadão a diversão de viver sorrindo, sem precisar do parque.