quinta-feira, 30 de junho de 2011

Viva o pânico

Depois de muita economia, um aperto aqui, outro ali, a família comemorava a instalação da antena com sinal de TV fechada. O pacote prometia um show de canais. Esporte, filmes, seriados, desenhos, moda, notícias, com apenas um toque no controle remoto. O pai, seu Genésio, não via a hora de mostrar pra filharada o canal que reprisava novelas e programas que um dia foram  líderes de audiência. Tinha lido em algum lugar que aquela emissora já era a mais assistida em alguns horários. Também, dizia ele, não era pra menos, naquele tempo é que se faziam programas de verdade. Como se o “naquele tempo” fizesse tanto tempo assim.


O canal, naquela noite, exibiria a Escolinha do Professor Raimundo, o Viva o Gordo e algumas novelas. Por mais que a molecada insistisse em dar uma olhada nas séries com vampiros e canais de música, de preferência algum com a Lady Gaga, seu Genésio permanecia irredutível. Nem mesmo a bondade abnegada de dona Maria Francisca seria capaz de ajudar  a turminha. Todos teriam que conhecer o que o pai e a mãe um dia curtiram. No máximo uma navegada no intervalo estaria permitida.


Eram sete na sala: o casal e cinco filhos. O mais velho com 19 e a mais novinha com 11. A impaciência era compatível com a ordem de idade. Os mais moços até curtiram um bocadinho mais os quadros e brincadeiras. A curiosidade para ver como as coisas eram, ajudou a segurar a onda por um tempo. Principalmente com o delicioso humor da Escolinha. Na hora do Gordo, com Jô Soares em grande estilo, a insatisfação começou a azedar o clima na sala. Enquanto Genésio e Maria riam escancarados, o resto da plateia se esforçava para entender piadas com o Plano Cruzado, a Sunab, os fiscais do Sarney, Tele Santana...


A de 11 e o de 13, Maria Carla e Reinaldo Henrique, dormiram no primeiro bloco. Não chegariam até a novela e talvez nem se interessassem por saber quem matou Odete Roitmann de novo. Os demais aguentaram firmes. Mas um dos intervalos forçou uma reunião de família em caráter de emergência. Paulo Eduardo, Maycon Felipe e Elaine Taiane queriam seu espaço reservado também. Afinal, domingo tinha o Pânico e segunda o CQC, sem contar as series da Sony e Warner,  assuntos obrigatórios na escola e no trabalho.


Ficou estabelecido que haveria  horários conforme a faixa etária. Seria preciso também  outro aperto no orçamento para comprar uma 14 polegadas pro quarto do casal. E assim foi feito: enquanto Genésio e Maria riam ou choravam com suas lembranças, a filharada se revezava entre sangue, rock, suspense e uma ou outra dose de National Geografic. O canal adulto era assunto para outra reunião. Sem elas!