quinta-feira, 14 de julho de 2011

Tá rindo de quê?

De repente, quando acordei, tinha uma bola na ponta do meu nariz. Vermelha, igual a de um palhaço. Fui ao espelho, olhei, esfreguei os olhos, vi que não era sonho. Tinha mesmo uma bola ali. E não saia. Cocei, peguei, apalpei, pensei em tentar arrancar, mas nada. Ela continuava firme. Só faltava a maquiagem e o circo. Liguei para um médico amigo e falei a respeito do corpo estranho que agora fazia parte do meu corpo. Ele riu, achou que era brincadeira, depois viu que eu não estava em condições de fazer palhaçada. Só estava com cara de palhaço. Duro foi achar um disfarce para sair, chegar ao consultório sem ser notado. Impossível, claro! Assim que apareci na garagem do prédio o Gabriel, filho do Nonato gritou pra todo mundo ouvir: Olha lá, olha lá, o nariz de palhaço...Vermelho de raiva e vermelho na ponta das narinas, sai bufando. O que, nesse caso, deixava minha situação ainda mais ridícula.

Quando cheguei ao consultório, vergonha das vergonhas. Meu médico precisou sair. Falei para a recepcionista que era um caso grave. Ela riu! Do que falei ou da minha cara? Nunca saberei, mas comecei a pensar em entrar para os doutores da alegria. Nariz eu já tinha...Esperei num canto, longe de todos. Óbvio que o comentário na recepção não poderia ser outro. Era eu o alvo das risadinhas, piadinhas e ti-ti-ti. O bobo da corte...

Quando o Orlando chegou, veio com a piada pronta: Meu grande amigo, disse ele, agora sim posso voltar para meu empreendimento. Orlando Orfei volta à estrada em grande estilo. Que merda! Meu médico tinha que ter nome de dono de circo. E ainda era um péssimo piadista.Aguentei as brincadeiras de praxe no consultório  e o exame começou. Veio uma junta médica. Eu era o objeto de estudo mais estranho que havia aparecido ali em anos. Uma bactéria, um fungo, uma alergia, um câncer, uma espinha gigante, um implante extraterrestre... tudo quanto é teoria pintou entre análises mais sérias e gaiatices. O formato do nariz pedia isso! Fui examinado a fundo, filmado, fotografado, debatido. A conferência on line daquele dia girou em torno disso. Até mesmo uma possível nova doença foi ventilada: algo como Narinas de Arlequim, pra não dizer palhaço, de cara.

Infelizmente precisei operar. E com um dos maiores nomes da cirurgia plástica do país. A bola não sairia sem essa intervenção. Pedi para ficar internado. Não iria embora com o nariz assim nem se fosse chamado pelo Cirque De Soleil. Ainda bem que tudo correu bem. Em poucos dias eu já estava de volta à rotina. Até aprendi a rir dessa história. E a conviver com o apelido que me deram: Arrelia. E dos convites que ainda recebo para alegras festas de criança. Para os mais íntimos respondo com uma piada pronta também: Só se tua mãe for a mulher barbada...