quarta-feira, 15 de junho de 2011

Isso não é nada!

Tem gente que gosta de contar vantagem sobre as doenças que já teve, os acidentes que sofreu, seus próprios dramas e casos. Na rodinha de amigos é só você falar de uma gripe que lá vem eles com no mínimo uma pneumonia. O Braguinha é assim: basta começar uma conversa sobre alguma enfermidade para ligar o alerta dos males que um dia ele sofreu, ou inventa que sofreu.
Dia desses, no intervalo de um jogo pela TV, falei de um problema no dedão do pé, que nunca mais foi o mesmo depois de uma partida de futebol na adolescência. Pra quê!! O Braguinha logo lascou sua frase predileta: Isso não é nada! Você precisava ver como ficou meu pé inteiro, depois de uma solada que levei no Varzeano de 1985. Lembra? Patrocinado pela Antarctica? Pois é! Inchou tanto, tanto, que nem deu pra colocar o gesso.
Semana seguinte, um churrasquinho na casa do Dadá, e novamente a turma toda estava reunida. Alguém falou em jogar bola no calor  e como isso era perigoso. Tentaram até contar uma ou outra passagem sobre pele queimada, ou algo assim, mas o Braguinha acordou inspirado naquele domingo. Isso não é nada! Vocês tinham que ver como eu fiquei quando tinha 9 anos. Estava jogando na frente de casa, um futebolzinho daqueles que a gente coloca os tijolos pra fazer de gol, e devia estar uns 40 graus. E eu descalço. De repente comecei a sentir uma coisa mole embaixo dos pés. Quando dei por mim a coisa tinha desandado toda. A sola estava quase solta. Minha mãe gritou por meu pai que correu me levar pra farmácia do Tião Novalgina. De lá para o hospital e pronto. Tiveram que tirar a sola inteira. Fiquei uns 3 meses indo pra escola carregado. A história do Braga era novamente imbatível.
Depois de um silêncio quase sepulcral, uma voz surgiu saindo de perto da churrasqueira. E justamente do Agenor, que quase nunca falava nada. Como quem escondia um segredo há tempos, ele contou a história de quando levou um choque, ficou morto por mais de 15 minutos, foi ressuscitado  pelo socorro médico e tem as marcas da descarga elétrica pelo corpo até hoje. Tirou a camisa, a calça, ficou só de calção de banho e exibiu umas marcas pretas que a gente nunca tinha visto. E ainda falou da experiência de ver uma luz branca, sentir uma paz incrível lá do outro lado e até conversar com alguém que lhe disse que ainda não era sua hora. Quando Braguinha tentou abrir a boca para dizer que isso não era nada, olhou pros lados, viu que havia descoberto uma história de outro mundo. Como por lá ele ainda não tinha ido, experimentou sua primeira grande derrota. Viva o Agenor!!!