quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Brothers


Um programa de TV e capaz de nos pegar de surpresa. Foi o que aconteceu comigo, quando via a ESPN Brasil numa segunda-feira, à noite. Num raro momento de sossego. Na tela, ao volante de uma Mercedez, um ex-atleta falando inglês com sotaque carregado das Balcãs, me fez deixar o controle remoto de lado. Era Vlad Divac, um dos maiores jogadores de basquete da Europa em todos os tempos. Ele narrava um documentário chamado Brothers. Uma produção em que o esporte é pano de fundo para dramas históricos recentes e os traumas que marcaram a guerra que esfacelou a Iugoslávia.


E era por essa seleção que Divac jogava. Ele, Drazen Petrovic e um elenco que encantou o mundo. No final dos anos 80 e início da década de 90 um time quase imbatível. Sua derrota maior aconteceu fora das quadras. Quando a Croácia viu o muro de Berlim cair e voltou a sonhar com sua independência. Ali começava a rachar o país e sua poderosa seleção de basquete. A história, contada com idas e vindas pelo tempo, é emocionante do começo ao fim. Tem hora que parece um filme de ficção, baseado em roteiro original e com produção cara. Mas a vida real, às vezes precisa ser contada com cara de vida real mesmo. É dessa forma que descobrimos como uma atitude pode abalar uma nação e acabar com sólidas amizades.
Foi assim quando a Iugoslávia venceu uma competição e um torcedor  entrou na quadra com uma bandeira croata em busca da separação. Divac ficou furioso. Não queria separar seu país, porque não desejava ver sua equipe desmanchada. Ali estavam seus amigos. Ali estava sua identidade. Por isso  pegou a bandeira e jogou no chão. Sua atitude não só despertou o ódio na Croácia como o afastou dos companheiros de time. Petrovic, um dos maiores cestinhas que o mundo já viu, era um deles.

O documentário mostra como os dois eram unidos, especialmente quando foram juntos para o draft da NBA. Um sonho realizado! Vlad Divac no Lakers e Petrovic no Portland. E mostra também a busca do sérvio para reconquistar a amizade do croata. O que nunca foi possível acontecer. Já que Petrovic morreu num acidente de carro em 1993.

Em Brothers, os produtores mostram Divac retornando à Croácia para encontrar a família de Drazen, quase 20 anos depois. Não esconde como os moradores de Zagreb falavam dele pelas costas, quando passava nas calçadas da capital ainda marcada pelas bombas. Um dia ele foi ídolo lá. Hoje ainda é visto como um traidor, um inimigo. Poucas vezes vi um trabalho com tamanha qualidade. Jornalismo, cinema, televisão, esporte, vida, amizade e força. Vlad Divac, com seus 2 metros e 13 de altura mostrou ser mesmo um grande sujeito. Principalmente  quando acreditou ser  possível não mudar o mundo.