quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O dia em que a segunda parou

Ela entrou enfurecida aquela manhã, na sede do Ministério Celestial dos Dias e Semanas, o MCDS. Soube que o Chefe estava lá e queria falar com ele: Não aguento mais tanta discriminação, reclamou, horas depois de esperar na fila. Ser segunda-feira é péssimo. Todos os dias da semana  tem seu status, seu glamour... A sexta-feira tem até música. Já ouviu alguém cantar “hoje é segundaaaaa-feiraaaaaa”? Então, veja como me sinto. Sábado é dia da feijoada no Brasil e é sagrado pra muita gente. E o domingo também diz que é santo, santarrão... detesto hipocrisia, reclamava com amargura e cara de segunda-feira mesmo. Sobre a terça e a  quinta afirmo que as  duas ficam com  aquele ar de neutralidade, pra ninguém notar  que não passam de dois diazinhos sem-graça. A quarta sim, eu respeito: futebol...namoro... cinema  mais barato, enfim, tiro o chapéu pra ela.
O Chefe olhava para a segunda e disfarçava uma leve conferida no relógio. É que São Pedro aguardava na sala ao lado porque também estava em crise. Sentia-se  culpado e não aguentava mais as reclamações vindas do São Paulo.  Pô Pedrão, manéra lá com a minha cidade. É muita água! Para de dizer que a culpa não é da água, mas do piso que não deixa a chuva ir pra lugar algum... Como os dois  já não se entendiam muito quando estavam aqui, era hora de gerenciar a crise.
Só que  a segunda continuava  lá, azucrinando e querendo mudar de dia. Como se isso fosse possível. Chefe, voltava  ela à carga, o Garfield ganha a vida comendo lasanha e falando mal de mim. Aliás, todo mundo fala mal de mim. É só tocar a música do Fantástico que já começam a me xingar. Sou o dia seguinte ao descanso. Sou aquela que ninguém queria que chegasse. Imagina como ando me sentindo. Até pensei  em fazer um blog, mas não sei se to preparada pra interagir. Imagina o que vão me falar  se eu for para as redes sociais...
O que eu faço? Em alguns idiomas não passo de segundo dia. Grande coisa! Em outros  sou o dia da lua, piorou. Todo mundo quer saber do sol, do domingão, da praia. Estou fadada ao descaso. Me ajude,  pelo amor de Você Mesmo! Preciso me reencontrar.
Lembrando que Ele também não descansava há muito tempo, o Chefe  estava pronto para mandar a segunda achar o que fazer quando entra Gabriel, avisando que havia um tumulto em função de um boato de que um ex-presidente de um país da América do Sul pensava em ser canonizado vivo. Era a deixa ideal para empurrar a questão para outro dia.  Me desculpe,  querida, vou ver o que posso fazer por você. Não fale pra ninguém que conversamos sobre isso. E, volte na próxima segunda, ou melhor, venha na terça,  às segundas geralmente não me sinto muito bem...