sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Para São Paulo

De pau e pedra

São Paulo faz aniversário, mas é uma cidade que chora. Tem ondas de lágrimas nas ruas alagadas e choro contido nos semblantes silenciosos do metrô lotado. Quer gritar sua incrível história, sobre como se tornou o gigante que  cresceu tanto a ponto de mal conseguir ver os próprios pés. 

Fascinante  em explosões de arte e cultura, explode gente também.
Tem um sotaque tão seu, mesmo sendo de tantos. 
Exemplo de lugar que a gente ama ou detesta. Às vezes experimenta esse amor e ódio  num mesmo dia. Basta a garoa virar tempestade.

A metrópole é protagonista. Desperta muita inveja. Nenhum lugar é assim. Em São Paulo você encontra o mundo inteiro. Tem um planeta espalhado entre milhões e consegue perder  o eu de cada um numa correria que enreda, fisga, vicia, apaixona e silencia o semblante no metrô lotado. 

No quarto do hotel, de onde escrevo, vejo a pequena mala que fecho amanhã para voltar pra casa. Abaixo o volume da TV, pra ouvir a cidade ali fora. Tão poderosamente grande, que ao invés de acolher nos  recolhe. E ainda assim é mágica, encantadora, misteriosa...

Um dia o poeta cantou que quando chegou por aqui ele nada entendeu. E quem entende?
São Paulo não se explica. Pode ser comparada ao santo que lhe empresta o nome. O apóstolo que  escreveu sobre o amor de tal forma que nem Shakespeare conseguiria. 
Se eu falasse a língua dos anjos e não tivesse amor, eu nada seria. 
Pronto, eis o presente de aniversário ideal: doses maiores de amor. São Paulo agradece. Não o santo, que já está no céu, mas a cidade, que não quer e não merece virar um inferno.