segunda-feira, 14 de março de 2011

Mundo animal

Vizinho  barulhento é uma praga. Fala alto, escuta pagode no máximo, grita, torce, xinga, briga, sempre estourando os decibéis e o saquinho de quem está por perto. E de quem não está tão perto assim, mas o suficiente para sentir os efeitos da perturbação. Já tive um vizinho assim; um não, dois. Diziam que eram estudantes, mas estavam  mais para aquelas crianças que trocam a noite pelo dia. Já teve uma em casa? Quando você está acordado, ela dorme, quando você deveria estar dormindo, ela acorda. Ou seja, você vira um zumbi, um ser com a paciência mais esgotada que maratonista em fim de prova.

É assim que me sentia... Negociava, pedia silêncio, explicava que trabalhava amanhã e a turma de casa tinha aula, que entendia que eles eram jovens e ativos, mas confesso que além de ver os argumentos acabando eu não tinha mais saco. A dupla ao lado não aprendia a lição mais importante; aquela do respeito ao próximo e do direito que temos a preciosas horas de sossego.

Por isso apelei. Tomei uma atitude sórdida, cruel, dura, irritável. Comprei um papagaio, um poodle e um canário belga. Quando o cachorro parava de latir, o papagaio imitava ele ou pedia comida. Após o falatório repetitivo o canarinho cantava. Alto, agudo, expansivo, quase violento. Era um José Carreras das gaiolas. Pra piorar, quando o canário caprichava demais incomodava o cãozinho, que passava a uivar como quem implora para que desliguem a vitrola. Sabia que o mundo animal em casa  era uma declaração de guerra. E que o nosso silêncio tinha ido embora.

Quando me mudei, levei a patota. Acostumado ao sobe-e-desce dos sons em casa, fiquei com todos por garantia.
De qualquer modo, seu ruído é mais agradável que o dos vizinhos. Se for para sofrer, que seja com animais irracionais.