quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Onde vivem os monstros

Nunca gostei do Neymar. Não é porque ele é um projeto de craque que alguém seja obrigado a gostar dele. Não chega a ser ódio, nem raiva, apenas desprezo a forma com que ele trata seus companheiros de profissão, imprensa e até a torcida. Na opinião do técnico René Simões, após os palavrões do atleta dirigidos ao capitão e ao treinador do Peixe, estamos criando um monstro.
E olha que Simões é técnico do Atlético de Goiás, adversário do Santos no meio da semana. Mas ele se doeu. Sentiu por Dorival Júnior. Sentiu pelo futebol. Esporte que Neymar se julga estar acima. Assim como acredita estar acima dos demais seres humanos. Característica que tomou conta de seu comportamento à medida que foi sendo paparicado.
Ao observar as birras de Neymar, seus rompantes de absoluta falta de educação, seu destempero e uma incrível fascinação por si mesmo, tenho a tendência natural a relembrar outros jogadores brilhantes. Alguns deles sim, gênios da bola. Vamos aos brasileiros, e por ordem: Pelé, o maior de todos, passou a falar dele mesmo na terceira pessoa, Pelé isso, Ele aquilo, depois de ter se consagrado. E isso soou sempre mais folclórico. Pelé nunca humilhou treinador, colegas, adversários. A não ser dando o espetáculo.
Zico, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Garrincha, Reinaldo, Ronaldo, Leônidas, e tantos outros, brilharam no primeiro time das maiores constelações da bola, sem nunca ter precisado recorrer à soberba, máscara, ou qualquer tipo de comportamento reprovável, contra o ser humano com quem jogava ou para quem jogava.
Claro que o futebol teve lá seus monstrinhos. Paul Gascoigne, Eric Cantoná, Maradona, Djlaminha, Marcelinho, Edmundo, até mesmo Romário, genial e marrento, podem ser incluídos numa lista de amor e ódio, por conta do comportamento. Mas nem de longe fizeram o que Neymar fez e faz. Nem mesmo a cabeçada de Djalminha deve ter doído tanto quanto as palavras que o peixe mais valioso do Santos proferiu contra tudo e contra todos.
Penso que o caso deste jovem, que aparentemente tem um futuro promissor, já pode ser um caso perdido. O deslumbre, a vanglória, a egolatria, parecem ter tomado conta dele. Ficou possuído de si mesmo. Será preciso um trabalho árduo, um exorcismo espantoso, para expulsar o monstro e salvar o homem. Quem sabe um zagueiro em fim de carreira, mas aí entrará em cena a violência, o que também reprovo. Quem sabe um técnico que não perca o emprego se lhe der uns bons safanões no vestiário. Ops! Voltei a falar de violência. Melhor encerrar o assunto. Antes que eu também me deixe levar pelo ódio.
Sobre esse assunto, não quero falar Neymar, nem menos. O Brasil tem muito mais que ele. Aliás, um dia o próprio jogador vai descobrir isso. Ou terá que se mudar para onde vivem os monstros.