sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

No princípio era


Em inúmeros rios pelo mundo, diversas espécies de peixes fazem há milhares de anos, uma mesma longa jornada contra a correnteza. Desova e procriação, manutenção da espécie, estão no seu padrão genético. Elas o seguem, lutando contra a força das águas repetidas e repetidas vezes. Muitas foram extintas em função da chegada do homem, outas tantas conseguiram se adaptar, até mesmo às obras que drenam ou barram o mover natural nos rios, conseguindo se reinventar e chegar ao alvo todos os anos.


Que força é essa, que move a natureza no sentido de sobreviver e sem que percebamos manter junto com isso a nossa própria existência?


Muitos de nós, mesmo a caminho do metaverso, Matrix e outras filiais, ainda conseguimos manter um padrão de criação também. É ele que nos faz permanecer nadando com força contra a correnteza. Não que as águas estejam ou sejam sempre impuras, ou que haja algum problema com o rio. Embora isso também seja possível. A força contrária aqui está entrincheirada em uma série de outras possibilidades. Crenças, descrenças, opressão, modelos mentais enraizados, tabús, preconceitos, ódio, apego ao ter e não ao ser, ou simplesmente um desapego ao respeito e consideração ao planeta e seres que nele habitam.


Antes que pareça essa minha fala também uma correnteza, deixe-me explicar. Continuo percebendo em mim ainda o padrão genético da espécie em busca da nascente das águas. Cansado muitas vezes, ou assustado com a imensidão de uma barreira à frente, uma cascata avassaladora, a desistência e o me deixar levar já foram muitas vezes tentadores. Mas noto que o mover das barbatanas e o sentido de preservação e manutenção do que ainda nos resta, estão presentes no meu modo de pensar, respirar embaixo d’água.


E noto também, espécies da mesma espécie, embora aparentemente diferentes, também seguindo o mesmo fluxo; sem desistir. Apesar dos machucados nas escamas.


Te garanto que isso é animador!


E não é de céu que estou falando, por ora. É daqui mesmo, onde homens já imaginaram ser o centro do universo. O pão nosso de cada dia, sovado, suado e comido muitas vezes com sabor amargo, é de sonho, é de pó, é de barro, é de água, é de terra, é humano, é terráqueo, é terreno, por isso também é divino.


Nademos, portanto. Chegar ao nascedouro é recomeçar. E recomeçar é acreditar que a viagem vale a pena.


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