Túnel
do tempo
Quando eu era pequeno,
a televisão era um tipo de deus. Acreditava tanto nela, que meus amigos
imaginários tinham tudo a ver com o que brotava na telinha e caia dentro da
sala. Mas não me lembro de ser uma crença assassina ou maléfica. Tudo era puro.
O bandido e o mocinho dos tiros de brincadeira não morriam nunca. No máximo
causavam um debate entre os amigos pra saber quem tinha sido atingido primeiro.
A magia dos filmes era
tão grande e mexia tanto comigo quanto a do futebol. Só era duro assistir aos
jogos entre equipes de camisa escura e calção parecido. A TV em preto e branco
tornava os dois times praticamente iguais. Sem contar que a imagem oscilava e o
som chiava. Sim, papai colocava Bombril muitas vezes na ponta da antena pra ver
se melhorava...
Hoje a televisão ainda
me fascina. Especialmente por conta do grande número de possibilidades que ela
oferece e seu casamento com as demais mídias. Nem é mais só TV mesmo. A tela,
do tamanho da palma da mão ou da parede de uma sala, virou um mundo de tudo um
pouco.
Pena que ao mesmo tempo
em que ainda consegue mexer com o mais íntimo da imaginação, tenha se tornado
capaz de produzir tanta bobagem. Óbvio que aquela televisão dos meus heróis ali
de cima também produzia conteúdo descartável. Sempre foi assim. Só que hoje ela
lembra uma casa de acumuladores
desenfreados. Cada cômodo parece estar mais atulhado de lixo. E nem todo ele é
reciclável.