Quando
minha esposa me acordou hoje, com um beijo, foi a primeira coisa que disse.
Está chovendo. Levantei, vi que o dia estava mais cinza. Um pouco mais frio do
que de costume. Acabrunhado. Um dia triste. Estranhei, porque sempre gostei de
chuva. Logo depois, no calendário, recordei que era o dia de aniversário da
morte do meu pai. Não digo que isso tenha deixado o dia pior. Ele já estava triste. Mas a lembrança fez com que
eu ficasse mais reflexivo. Contemplativo. Postei no face alguma coisa, relembrei algumas outras,
tentei retomar a rotina. Aliás, rotina em dia triste é a pior rotina de todas.
Não
foi uma manhã fácil. Bateu saudade do velho. Que nem era velho quando morreu. E
nem ficou. Deve estar mais jovem do que eu.
Mas
minha tristeza não tinha a ver com sua ausência. Seria maldade demais. Sofrer excessivamente
por alguém que já se foi, deixaria esse alguém se sentindo culpado. Como se sua
morte fosse um castigo.
A
dor era a da ausência de algo que parece estar faltando no mundo todo. A
impressão é de que estamos perdidos em competições diárias pelo status. O “ter mais” está acabando com as relações
sinceras. Em quase todos os ambientes, o que se vê é uma quase total ausência
de zelo pelo próximo. De respeito por sua dignidade e individualidade. Está faltando
o olho no olho. O respeito pela palavra empenhada. A consideração pela
iniciativa do outro. O ouvido mais atento do que a boca. Os olhos mais mansos
do que cheios de juízo. Os abraços mais quentes do que armados de interesse.
Acredito
que o o fato de ser aniversário da morte de alguém que representa esses valores,
tenha me deixado meio assim, acabrunhado, triste, como se estivesse chovendo
dentro de mim. Mas espera aí! Eu sempre gostei de chuva…