Errado,
eu?
Há um episódio marcante
na vida do escritor britânico G.K. Chesterton, quando foi procurado pelo jornal
The Times para escrever um ensaio sobre “O que há de errado com o mundo”. O autor
respondeu assim:
Prezados Senhores,
Eu.
Sinceramente
G.K. Chesterton
Talvez ao responder com
uma única palavra ele tenha conseguido escrever um dos mais brilhantes e
enfáticos textos que aquele ou qualquer outro informativo já recebeu. Que incrível
resposta! Chesterton diz que o há de errado com o planeta é ele mesmo.
Seu Eu puro e simples
desmascara egos. Aparentemente ele perde uma oportunidade de discorrer sobre
tantas de suas teses e quem sabe até provocar e apimentar ainda mais sua divergência
intelectual com Bernard Shaw. Mas não, esse
outro escritor genial não só baixou o
tom contra Chesterton como passou a tratá-lo como
um “inimigo amigável”, tamanho o respeito que crescia dentro das discordâncias.
Hoje, considerando que
eu, tú, ele, nós vós e eles somos o que há de errado com o mundo, não faz
sentido algum esse cenário de acusações levianas, julgamentos precipitados,
destruição de reputações, sarcasmo, ódio e vingança que temos visto diariamente.
Ao nos tornamos nossos próprios
autores e descobrirmos o poder de fazer comunicação,
estamos destruindo um dos seus maiores
pilares, o da responsabilidade. Em meio ao anonimato, atiram-se pedras verbais
e literais. A turba ensandecida quer sangue. Mesmo que seja de inocentes.
O whatsapp, com tantas
ferramentas incríveis e uma capacidade inigualável de facilitar a vida de tanta
gente, também surge como uma besta-sem-freios. Seu ambiente obscuro propaga dia
após dia sabe-se lá Deus que mensagens. O pior, é que em sua maioria elas
apontam o erro do outro, sem o compromisso de checar a verdade ou a ponderação
de quem olha no espelho e também vê as marcas enrugadas dos próprios pecados.
Se fosse para relembrar a
arte de Dale Carnegie em seu encantador processo de relacionar e fazer amigos,
citaríamos o trio esquecido: Não criticar, não condenar, não se queixar. Como imaginar
a vida nos tempos atuais sem isso? Se é desses elementos que o monstro que
habita nos teclados tem vivido?
Ainda isso ouso imaginar.
Até dar uma sonhada e nesse embalo acreditar que poderemos amanhecer melhor amanhã.
Um Eu melhor! Tú, ele, nós todos. Melhores não no sentido puritano ou piegas da
palavra. Nem com a ingenuidade de quem fecha os olhos para a injustiça e
corrupção. Não é isso! Falo de ser melhor para um mundo melhor. Aquele que reaprende
a se comunicar elevando o próximo.
Um mundo que devolve o poder
ao que é bom e correto. onde consigamos voltar a pegar as pedras para construir
e não para matar.