domingo, 3 de junho de 2018


Errado, eu?

Há um episódio marcante na vida do escritor britânico G.K. Chesterton, quando foi procurado pelo jornal The Times para escrever um ensaio sobre “O que há de errado com o mundo”. O autor respondeu assim:

Prezados Senhores,
Eu.
Sinceramente
G.K. Chesterton

Talvez ao responder com uma única palavra ele tenha conseguido escrever um dos mais brilhantes e enfáticos textos que aquele ou qualquer outro informativo já recebeu. Que incrível resposta! Chesterton diz que o há de errado com o planeta é ele mesmo.

Seu Eu puro e simples desmascara egos. Aparentemente ele perde uma oportunidade de discorrer sobre tantas de suas teses e quem sabe até provocar e apimentar ainda mais sua divergência intelectual com Bernard Shaw. Mas não,  esse  outro escritor genial não só baixou o tom contra Chesterton como passou a tratá-lo como um “inimigo amigável”, tamanho o respeito que crescia dentro das discordâncias.

Hoje, considerando que eu, tú, ele, nós vós e eles somos o que há de errado com o mundo, não faz sentido algum esse cenário de acusações levianas, julgamentos precipitados, destruição de reputações, sarcasmo, ódio e vingança que temos visto diariamente.

Ao nos tornamos nossos próprios autores e descobrirmos o poder de fazer comunicação, estamos destruindo  um dos seus maiores pilares, o da responsabilidade. Em meio ao anonimato, atiram-se pedras verbais e literais. A turba ensandecida quer sangue. Mesmo que seja de inocentes.

O whatsapp, com tantas ferramentas incríveis e uma capacidade inigualável de facilitar a vida de tanta gente, também surge como uma besta-sem-freios. Seu ambiente obscuro propaga dia após dia sabe-se lá Deus que mensagens. O pior, é que em sua maioria elas apontam o erro do outro, sem o compromisso de checar a verdade ou a ponderação de quem olha no espelho e também vê as marcas enrugadas dos próprios pecados.

Se fosse para relembrar a arte de Dale Carnegie em seu encantador processo de relacionar e fazer amigos, citaríamos o trio esquecido: Não criticar, não condenar, não se queixar. Como imaginar a vida nos tempos atuais sem isso? Se é desses elementos que o monstro que habita nos teclados tem vivido?

Ainda isso ouso imaginar. Até dar uma sonhada e nesse embalo acreditar que poderemos amanhecer melhor amanhã. Um Eu melhor! Tú, ele, nós todos. Melhores não no sentido puritano ou piegas da palavra. Nem com a ingenuidade de quem fecha os olhos para a injustiça e corrupção. Não é isso! Falo de ser melhor para um mundo melhor. Aquele que reaprende a se comunicar elevando o próximo.

Um mundo que devolve o poder ao que é bom e correto. onde consigamos voltar a pegar as pedras para construir e não para matar.