Cucumbrianos
Não eram tolos, mas também
não eram o maior exemplo de sabedoria e
desenvolvimento. O povo de Cucumbria era do tipo pacato, sem compromisso, uma
espécie de não querer querendo. Boas praias, algumas regiões mais ricas que outras,
clima agradável, lugar bom de se morar;
se o morador não fosse muito exigente.
Como os cucumbrianos não eram
muito chegados ao esforço, hora marcada, planejamento, cuidados com a saúde,
saneamento e segurança, entre outras cucumbrices, o visitante tinha sempre que
buscar uma certa compensação. Ora
recordando que em poucos lugares do mundo o povo era tão alegre e cheio de vida, ora observando as
belezas naturais. E, seguindo o pensamento local, sempre acreditando que um dia
a coisa ia dar certo. Uma hora melhora! Essa, por sinal, era a frase cucumbriana
preferida.
Conheci muitos de lá. Alguns até
estavam determinados a mudar. Buscar novos ares. Mas a maioria vivia
conformada. E com um senso de humor incrível. O que para muitos estrangeiros
era surpreendente. Uma corrupção endêmica e índices medíocres de educação e
desenvolvimento humano eram enredo mais para lágrimas do que gargalhadas. Mas
Cucumbria sempre foi assim. Sabia rir de sua própria dor. E se orgulhava de ser
um lugar que Deus tinha abençoado. Livrando sua terra de terremotos, tufões,
furacões e argentinos. Que para eles, eram a verdadeira desgraça.
Não sei se neste ano as coisas
podem melhorar por lá. O calendário deles é meio diferente. Tipo o chinês ou o
maia. Tudo começa depois de uma grande festa, que toma as ruas da cidade e
chega a parar o país por uma semana. Em alguns lugares até mais. Como a festa
acontece dois meses depois do começo do
ano e a agenda local é generosa em feriados, tudo indica que o sucesso, se um dia
vier, não será fruto de muito trabalho.
Pode acontecer mais por acaso mesmo. Os cucumbrianos acreditam que sim. Sempre
foram um povo de muita fé. E lá, dizem,
ela não costuma faiá.