quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Eu quero falar dos que mamam

Preparávamos o programa de rádio Papo de Redação, da Parecis FM de Porto Velho, quando o radialista Sérgio Pires surgiu com o pronunciamento da deputada Cidinha Campos, falando aos seus colegas na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. A gravação está no You Tube e exibe um dos mais contundentes pronunciamentos já registrados contra a corrupção. "Eu quero falar dos que mamam" é a frase que abre a sua fala, dirigida a um plenário bovinamente silencioso. A deputada estava indignada, com o fato de que um político comprovadamente corrupto, filho de um ex-deputado preso pelo mesmo motivo, com agravantes de formação de quadrilha, se candidatava a conselheiro do Tribunal de Contas.
Quando comecei a escrever sobre o impacto que seu discurso causa em quem assiste, achei que seria possível transmiti-lo aqui, em palavras envolvidas pelo manto da crônica. Mas não, não parece ser possível. Melhor é recomendar um acesso ao canal de vídeos e assistir; uma, duas, dez vezes. A força das palavras da deputada é tão grande, tão avassaladora, que além de decidirmos pela repercussão dela em nosso programa de rádio, entendi que deveria escrever algo sobre o que vi e ouvi.
Há muito tempo não via um discurso assim. Sempre admirei os grandes oradores. Muitos dos quais, mesmo com argumentos mais rebuscados, me impressionam pelo que disseram; no improviso ou com base em letras escritas para ficar na história. Mas a deputada Cidinha, ao gritar contra o que chama de canalhas consagrados, deputados associados a uma camarilha, faz um discurso em outro tom. Outro ritmo. Outra dimensão. Ela não nos chama à reflexão ou ao debate. Nem nos convida para entrar na sala de estar e fumar um charuto enquanto discutimos o rumo da política vigente. A deputada rasga verbos e adjetivos. Escancara podridão e raspa a lama das paredes da Casa de Leis onde exerce seu mandato. Ela não parece ter medo. Ao contrário. Parece querer nos dizer, aos brasileiros de qualquer canto, que não é para termos medo. Afinal, a quadrilha que ela condena lá, tem extensões pelos ambientes do poder em todo lugar.
Fizemos do programa na quarta feira de um 14 de dezembro chuvoso, um desabafo de quatro comentaristas calados, com voz de uma mulher entristecida pela sujeira e enlouquecida pela revolta. Ela falou mais uma vez... graças às ondas do rádio, que replicaram para Rondônia e via internet para tantos outros milhares. E vai falar ainda muitas outras vezes. Tantos forem os cliques on line, em busca de desabafos que possam lavar um pouco nossa alma. Pode até ser que não nos redima, nem nos salve. Mas já é um começo. Pena que existam tão poucas Cidinhas em nossos parlamentos. Pena que existam tantos canalhas dentro das urnas...