quarta-feira, 4 de abril de 2012

Silêncio dos culpados?

Eu quero tchú, eu quero tchá. Tchê, tchererê, tchê, tchê... tá tarada, tá tarada. Escrevo ao som de uma reportagem na TV apresentando o novíssimo sertanejo universitário. E as canções, se é que assim posso chamá-las, que estão na boca do povo, se é que eu posso chamar de boca.
Os refrões que não dizem nada não são novidade. João Bosco já cantou, aiaiaiaiaia, tjurubem na ri bababababa. A questão não é essa. O problema é a reverência à chamada música chiclete; aquela que gruda e não sai. Tipo a do Michel Teló, que nem escrevo um trecho aqui, com medo de que ela volta a me possuir e eu tenha que exorcizar de novo.
O Ecad, que Deus o tenha em mau lugar, apresenta dados dando conta de que nove, das dez mais do ranking musical brasileiro são músicas dessa onda sertaneja jovem. Compositores e intérpretes dão entrevista dizendo que esse é o retrato da moçada atual. Garantem que a galera tá tarada mesmo por um estilo que herdou o nome sertanejo mas de sertão não tem nada. Nem de raízes, nem de composição, nem de qualidade, nem de beleza.. nem de nada. O resultado da pesquisa comprova a gicantesca fraqueza cultural do país. O abismo que existe entre beleza, letra, melodia, história, amor, com a vulgaridade e suas múltiplas facetas musicais. Infelizmente, parece que a maioria está desse lado do abismo. Gostaria de acreditar que não.
Lamentalvelmente as rádios se dobram como quase sempre o fizeram. A indústria dá um jeito de impor o gosto e os DJ's mandam ver com som na caixa. Não importa o que está sendo rodado. O negócio é o negócio.
Impossível não reconhecer que existe uma safra de excelentes músicos. Que nem tudo está alheio ao que se fazia de genial em décadas brilhantes como as de 50, 60, 70 e até 80. Mas o que hoje é exceção, um dia já foi fartura. Quem quer brilhar no atual cenário, tem que se especializar em chicletismo. De preferência pouco abaixo da linha da cintura, com direito a muita pornografia. Porque, convenhamos, o que um dia já foi sensual, erótico, artístico, subliminar ou direto com direito a amor e saudade, se transformou em carne fria. Sem gosto, como um chiclete mascado por horas.
Eu não quero tchú!